Relatório da PF revela suspeitas de interferência de ex-integrantes da Segurança Pública e MP da Bahia em investigações da Faroeste.

Um relatório da Polícia Federal revelou suspeitas de que ex-integrantes da cúpula da Segurança Pública e do Ministério Público da Bahia teriam atuado para interferir em investigações relacionadas a desembargadores envolvidos na operação Faroeste, que trata da venda de decisões judiciais. O documento, assinado pelo delegado federal Pancho Riva Gomes e obtido pela Folha, aponta os investigados como suspeitos de participar de uma organização criminosa e de cometer outras irregularidades.

O principal nome mencionado no relatório é Maurício Teles Barbosa, ex-secretário da Segurança Pública da Bahia de 2011 a 2020, durante os governos do PT. Durante sua gestão, os índices de homicídio no estado aumentaram e a crise na segurança se agravou, tornando a Bahia o estado com maior número de mortes violentas desde 2019. Barbosa foi exonerado do cargo em meio às investigações da operação Faroeste e foi denunciado em 2021 por organização criminosa e obstrução de Justiça.

Segundo a investigação da Polícia Federal, Barbosa é suspeito de atuar em favor de um grupo de desembargadores ligados a Adailton Maturino, empresário conhecido como “falso cônsul”. Maturino é suspeito de bancar decisões favoráveis dos desembargadores em um esquema de grilagem de terras no oeste da Bahia. O ex-secretário teria recebido uma homenagem de “amigo da PM” de Maturino em 2018.

O relatório da PF, baseado em quebras de sigilo, delações premiadas e depoimentos de pessoas que trabalharam com Barbosa, aponta que os desembargadores ligados a Maturino teriam acionado a alta cúpula da Segurança da Bahia para criar operações policiais contra o grupo que disputava terras com o falsário. Um delegado da Polícia Civil afirmou em depoimento que Barbosa e sua chefe de gabinete solicitaram a abertura de investigação contra um grupo adversário de Maturino sob alegação de ser uma organização criminosa. O delegado também afirmou que participou de uma reunião com a desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago, então presidente do TJ e ligada a Maturino, sobre o assunto.

Além disso, o relatório aponta suspeitas de que houve relações entre a chefia do Ministério Público da Bahia e a Secretaria da Segurança Pública comandada por Barbosa. Antes da operação Faroeste, o Ministério Público deflagrou uma operação contra Maturino e sua esposa, e indícios apontam que ele já sabia da ação antes mesmo de acontecer.

Procurados pela imprensa, os investigados negaram as acusações. O advogado de Maurício Barbosa afirmou que as acusações não têm procedência e disse que já existe uma denúncia nas mãos do STJ para decidir se aceita ou não a acusação. A defesa de Ediene Lousado, ex-chefe do Ministério Público da Bahia, não se manifestou.

O relatório da Polícia Federal revela uma série de suspeitas e conexões entre a cúpula da Segurança Pública e do Ministério Público da Bahia e desembargadores envolvidos na operação Faroeste. Resta agora aguardar o posicionamento do STJ para saber se as acusações serão aceitas e se os investigados se tornarão réus no caso. A investigação continua e novas informações podem surgir no decorrer do processo.

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