Nos anos 1970, em uma nova fase, a ditadura militar voltou sua atenção para o próprio PCB, o principal partido de esquerda do país no século 20. Os comunistas estavam na clandestinidade, mas ainda assim debatiam política e lançavam publicações.
Nesse contexto, a inteligência militar passou a cooptar militantes comunistas, como Severino Theodoro de Mello, um dos infiltrados mais importantes entre os membros do PCB. Mello, cujo codinome era Vinicius, foi peça-chave na repressão ao partido, fornecendo informações que resultaram na morte de diversos dirigentes após sessões de tortura.
Mello atuou em conjunto com o capitão da Aeronáutica Antônio Pinto, conhecido como Doutor Pirilo, em uma operação de espionagem política que durou duas décadas. Esses dois homens estiveram no centro de uma das maiores operações de repressão da República, atingindo em cheio o PCB.
O livro “Cachorros – A História do Maior Espião dos Serviços Secretos Militares e a Repressão aos Comunistas até a Nova República”, de Marcelo Godoy, revela detalhes dessa trama, destacando a atuação de Mello e Pinto. A descoberta de que Mello era um espião a serviço dos militares veio à tona apenas em 1992, chocando seus antigos companheiros de militância no PCB.
Após anos de negações, em 2016, o PPS (Partido Popular Socialista), sucessor do PCB, finalmente reconheceu a traição de Mello e o expulsou de seus quadros. O autor do livro destaca a importância das entrevistas concedidas pelos protagonistas, Mello e Pinto, para a reconstrução da história do PCB e da repressão durante a ditadura militar no Brasil.