Ondas de calor mataram mais de 48 mil pessoas no Brasil nesta década, aponta estudo publicado na Plos One.

O Brasil tem enfrentado um aumento significativo no número de ondas de calor nos últimos anos, com um registro de 3 a 11 eventos por ano na década de 2010, quase quatro vezes mais do que na década de 1970. As consequências desses eventos climáticos extremos têm sido fatais, resultando em aproximadamente 48 mil mortes de brasileiros entre 2000 e 2018.

Esses dados foram compilados em um estudo inédito, publicado por 12 pesquisadores de sete universidades e instituições brasileiras e portuguesas, como a Universidade de Lisboa e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no periódico científico Plos One. O estudo revela que as ondas de calor aumentaram em frequência e intensidade, afetando as 14 áreas metropolitanas mais populosas do Brasil, onde vive 35% da população nacional, um total de 74 milhões de brasileiros.

Além do aumento na frequência, as ondas de calor também estão se tornando mais prolongadas. Enquanto nas décadas de 1970 e 1980 esses eventos adversos duravam de três a cinco dias, entre os anos de 2000 e 2010, a duração aumentou para entre quatro e seis dias. A análise dos dados revelou que esses eventos extremos levaram a mortes por problemas circulatórios, doenças respiratórias e outras condições crônicas agravadas pela alta temperatura.

Segundo a pesquisa, grupos mais vulneráveis a esses eventos extremos do clima são os idosos, principalmente mulheres, pessoas pardas, pretas e menos escolarizadas. O físico Monteiro dos Santos, da UFRJ, afirmou que “os eventos climáticos extremos não são democráticos, eles atingem muito mais aqueles que não têm acesso a recursos de adaptação”.

O climatologista Carlos Nobre ressaltou que as ondas de calor têm efeitos mais drásticos em regiões urbanas, com a temperatura média em cidades como São Paulo sendo 4ºC acima do que em áreas menos urbanizadas do Estado.

Apesar de todos esses impactos, o estudo aponta que as ondas de calor têm recebido menos visibilidade e atenção em comparação com outros eventos climáticos catastróficos, como deslizamentos de terra e enchentes. Carlos Nobre acrescentou que os desastres como alagamentos têm recebido mais atenção midiática do que as ondas de calor, pois causam mortes imediatamente, enquanto o aumento da temperatura leva dias, semanas ou até meses para matar.

O estudo sugere a implementação de sistemas de alertas de ondas de calor e a adoção de protocolos de prevenção e combate para lidar com esses eventos extremos, para que mortes que poderiam ser prevenidas não aumentem ano a ano. Conforme revelado no estudo, a falta de medidas nesse sentido pode levar a um aumento das mortes por efeito das altas temperaturas. Portanto, ações urgentes são necessárias para combater os impactos das ondas de calor no Brasil.

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