Esses dados foram compilados em um estudo inédito, publicado por 12 pesquisadores de sete universidades e instituições brasileiras e portuguesas, como a Universidade de Lisboa e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no periódico científico Plos One. O estudo revela que as ondas de calor aumentaram em frequência e intensidade, afetando as 14 áreas metropolitanas mais populosas do Brasil, onde vive 35% da população nacional, um total de 74 milhões de brasileiros.
Além do aumento na frequência, as ondas de calor também estão se tornando mais prolongadas. Enquanto nas décadas de 1970 e 1980 esses eventos adversos duravam de três a cinco dias, entre os anos de 2000 e 2010, a duração aumentou para entre quatro e seis dias. A análise dos dados revelou que esses eventos extremos levaram a mortes por problemas circulatórios, doenças respiratórias e outras condições crônicas agravadas pela alta temperatura.
Segundo a pesquisa, grupos mais vulneráveis a esses eventos extremos do clima são os idosos, principalmente mulheres, pessoas pardas, pretas e menos escolarizadas. O físico Monteiro dos Santos, da UFRJ, afirmou que “os eventos climáticos extremos não são democráticos, eles atingem muito mais aqueles que não têm acesso a recursos de adaptação”.
O climatologista Carlos Nobre ressaltou que as ondas de calor têm efeitos mais drásticos em regiões urbanas, com a temperatura média em cidades como São Paulo sendo 4ºC acima do que em áreas menos urbanizadas do Estado.
Apesar de todos esses impactos, o estudo aponta que as ondas de calor têm recebido menos visibilidade e atenção em comparação com outros eventos climáticos catastróficos, como deslizamentos de terra e enchentes. Carlos Nobre acrescentou que os desastres como alagamentos têm recebido mais atenção midiática do que as ondas de calor, pois causam mortes imediatamente, enquanto o aumento da temperatura leva dias, semanas ou até meses para matar.
O estudo sugere a implementação de sistemas de alertas de ondas de calor e a adoção de protocolos de prevenção e combate para lidar com esses eventos extremos, para que mortes que poderiam ser prevenidas não aumentem ano a ano. Conforme revelado no estudo, a falta de medidas nesse sentido pode levar a um aumento das mortes por efeito das altas temperaturas. Portanto, ações urgentes são necessárias para combater os impactos das ondas de calor no Brasil.