Gustavo Bebianno: a ascensão meteórica e a queda abrupta de um aliado incômodo de Bolsonaro.

A morte de Gustavo Bebianno chocou o Brasil e suscitou debates sobre o delicado equilíbrio entre política e autoritarismo no país. Bebianno foi uma figura-chave na campanha de Jair Bolsonaro em 2018, desempenhando um papel fundamental na coordenação da vitória presidencial naquele ano. No entanto, sua passagem pelo Palácio do Planalto foi curta, durando apenas 48 dias antes de ser demitido da cadeira de ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República.

O ex-aliado se tornou um adversário incômodo para Bolsonaro, conhecendo profundamente os meandros do bolsonarismo. Sua crescente oposição ao ex-presidente foi interrompida por sua morte súbita por um infarto em março de 2020. Bebianno estava filiado ao PSDB e apoiava a candidatura presidencial de João Doria, embora o projeto tenha sido abortado em 2022 após uma guerra interna de tucanos.

Bebianno afirmou em uma entrevista ao Congresso em Foco em outubro de 2019 que o entorno político de Bolsonaro estava discutindo uma forma de dar um golpe de Estado. Sua entrevista alertava para o potencial explosivo de algumas práticas do governo e sugeria que o presidente poderia tentar uma ruptura institucional. As ações da Polícia Federal, como a operação Tempus Veritatis, corroboram as declarações de Bebianno, indicando que Bolsonaro esteve envolvido em reuniões para discutir formas de não reconhecer a eleição de seu sucessor.

Segundo as investigações, Bolsonaro teria pedido mudanças em um decreto que buscava efetuar um golpe de Estado. Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, foi preso na operação Tempus Veritatis, juntamente com três outros militares ligados diretamente ao ex-presidente. As investigações também apontam que Bolsonaro participou ativamente dessas reuniões e recebeu o texto do decreto das mãos de seu assessor especial e do advogado Amauri Saad.

Bebianno, em suas últimas entrevistas, havia mencionado que o poder havia subido à cabeça de Bolsonaro, o acusando de desviar-se de suas promessas de campanha para proteger e favorecer seus filhos. Ele alertou para o autoritarismo e o desarranjo mental que marcam a gestão do ex-presidente.

Sua morte, que ocorreu 12 dias após declarações sobre o plano de uma “Abin paralela” promovida por Carlos Bolsonaro, ainda deixa questões sobre o que poderia ter sido revelado por ele. Renata Bebianno, viúva do ex-ministro, informou que destruiu o celular de seu marido sem ver o conteúdo, levantando suspeitas sobre possíveis mensagens comprometedoras.

A passagem de Bebianno pela política nacional e suas revelações destacam um período conturbado, repleto de desavenças entre o ex-aliado e o ex-presidente Jair Bolsonaro e alimentam um profundo debate sobre a democracia e a estabilidade institucional no Brasil.

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