O ex-aliado se tornou um adversário incômodo para Bolsonaro, conhecendo profundamente os meandros do bolsonarismo. Sua crescente oposição ao ex-presidente foi interrompida por sua morte súbita por um infarto em março de 2020. Bebianno estava filiado ao PSDB e apoiava a candidatura presidencial de João Doria, embora o projeto tenha sido abortado em 2022 após uma guerra interna de tucanos.
Bebianno afirmou em uma entrevista ao Congresso em Foco em outubro de 2019 que o entorno político de Bolsonaro estava discutindo uma forma de dar um golpe de Estado. Sua entrevista alertava para o potencial explosivo de algumas práticas do governo e sugeria que o presidente poderia tentar uma ruptura institucional. As ações da Polícia Federal, como a operação Tempus Veritatis, corroboram as declarações de Bebianno, indicando que Bolsonaro esteve envolvido em reuniões para discutir formas de não reconhecer a eleição de seu sucessor.
Segundo as investigações, Bolsonaro teria pedido mudanças em um decreto que buscava efetuar um golpe de Estado. Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, foi preso na operação Tempus Veritatis, juntamente com três outros militares ligados diretamente ao ex-presidente. As investigações também apontam que Bolsonaro participou ativamente dessas reuniões e recebeu o texto do decreto das mãos de seu assessor especial e do advogado Amauri Saad.
Bebianno, em suas últimas entrevistas, havia mencionado que o poder havia subido à cabeça de Bolsonaro, o acusando de desviar-se de suas promessas de campanha para proteger e favorecer seus filhos. Ele alertou para o autoritarismo e o desarranjo mental que marcam a gestão do ex-presidente.
Sua morte, que ocorreu 12 dias após declarações sobre o plano de uma “Abin paralela” promovida por Carlos Bolsonaro, ainda deixa questões sobre o que poderia ter sido revelado por ele. Renata Bebianno, viúva do ex-ministro, informou que destruiu o celular de seu marido sem ver o conteúdo, levantando suspeitas sobre possíveis mensagens comprometedoras.
A passagem de Bebianno pela política nacional e suas revelações destacam um período conturbado, repleto de desavenças entre o ex-aliado e o ex-presidente Jair Bolsonaro e alimentam um profundo debate sobre a democracia e a estabilidade institucional no Brasil.