Um ex-militar colombiano, identificado como Palacios e com 45 anos, admitiu perante um tribunal federal de Miami, nos Estados Unidos, o seu envolvimento no assassinato do ex-presidente do Haiti, Jovenel Moïse. O crime ocorreu em julho de 2021, quando Moïse foi vítima de uma invasão residencial seguida de assassinato. O ex-militar colombiano se pronunciou perante o tribunal nesta sexta-feira, dia 22 de dezembro.
Além disso, na terça-feira, 19 de dezembro, o mesmo tribunal condenou o ex-senador haitiano John Joel Joseph à prisão perpétua por conspiração contra o então mandatário. Esses eventos demonstram aparentes avanços nas investigações sobre o assassinato de Moïse, que mergulhou o país caribenho em uma crise sem precedentes.
O Haiti vive não apenas uma crise política, mas também social e de segurança, que foi intensificada pelo assassinato do ex-presidente. Para Ricardo Seitenfus, doutor em Relações Internacionais e representante da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti, o país é uma mistura de “símbolo de luta” e “rejeição”, devido às características históricas que marcaram a crise naquela nação mesmo antes do assassinato de Moïse.
Seitenfus enfatiza que o Haiti foi o primeiro e único país a se libertar do jugo colonial francês, tornando-se símbolo de luta contra a escravidão e o racismo que eram pilares da economia mundial da época. No entanto, o país foi rejeitado desde o início, não apenas pelos governos oponentes, mas também por aqueles que o ajudaram durante o processo de independência, como a Bolívia.
O especialista classifica o país como “um buraco negro da consciência ocidental” e destaca que o Haiti enfrenta estatísticas alarmantes, como 45% da população sofrendo de insegurança alimentar, 70% desempregada e 80% analfabeta. Décadas de instabilidade política e influência externa contribuíram para a situação atual do Haiti, que também foi afetado por desastres naturais, como o terremoto de 2010 e o surto de cólera.
A Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah), implantada em 2004, teve um papel significativo até o terremoto de 2010. No entanto, a interferência internacional nas eleições haitianas e a excessiva militarização do país após o desastre natural contribuíram para a crise atual. Em 2017, a Minustah foi retirada do Haiti, deixando um país mergulhado em instabilidade política, social e econômica.
A situação atual do Haiti demonstra a complexidade de sua história e os desafios enfrentados pelo país. A confissão do ex-militar colombiano sobre seu envolvimento no assassinato de Jovenel Moïse é um elemento a mais nesse cenário conturbado que o país caribenho precisa superar. Enquanto isso, a comunidade internacional deve se manter atenta e comprometida com o auxílio ao Haiti para que a nação possa superar essa grave crise e buscar um futuro mais estável e próspero.