O texto, escrito em 1977, ainda é atual e chocante pela maneira como retrata a vida de 25 detentos espremidos em uma cela apertada, sofrendo com doenças venéreas e outras adversidades. A encenação minimalista, com Rodrigues em um palco nu e alguns pedestais de microfones atrás dele, traz à tona a narrativa intensa do conto.
A diretora do espetáculo, Roberta Estrela D’Alva, explica que a limitação cênica faz com que os artistas busquem no corpo, na palavra e na voz o movimento que desejam transmitir. É um teatro épico, que se baseia na narração para criar a atmosfera da história.
Plínio Marcos, renomado dramaturgo do teatro marginal paulistano, teve várias de suas obras adaptadas para o cinema. “Inútil Canto e Inútil Pranto dos Anjos Caídos” não foi o único texto do autor sobre o cárcere. Sua primeira peça, “Barrela”, também se baseava na realidade de uma prisão em Santos, cidade onde nasceu.
No monólogo, Rodrigues dá vida às palavras de Plínio Marcos, declamando suas rimas em uma batida de fundo, inspirada pelo rap. O ator destaca a importância do movimento cultural para artistas periféricos como ele. Ele também participou do Núcleo Bartolomeu, coletivo teatral que une a dramaturgia ao hip-hop.
A peça traz à tona questões urgentes sobre o sistema prisional brasileiro, como a superlotação, a violência e a injustiça. As histórias dos personagens anônimos de Plínio Marcos remetem a casos reais, como o de Rafael Braga, que foi preso por carregar um frasco de desinfetante em uma manifestação e se tornou um símbolo das falhas judiciárias no país.
“Inútil Pranto e Inútil Canto dos Anjos Caídos” é um espetáculo impactante que convida o público a refletir sobre as mazelas do sistema prisional no Brasil. Com uma encenação minimalista e uma interpretação intensa de Ícaro Rodrigues, o solo traz à tona a brutalidade e a desumanidade vivida pelos detentos, ressaltando a necessidade de transformação desse cenário.