No áudio, Ferreira da Silva menciona a possibilidade de fazer uma apresentação ao filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, e também cita o policial federal Alexandre Ramagem, que posteriormente viria a ocupar o cargo de diretor-geral da Abin. O lobista enfatiza a importância de Ramagem, classificando-o como “o cara de extrema confiança do Bolsonaro” e destacando suas habilidades de investigação.
A discussão gira em torno do Pegasus, uma ferramenta cibernética de espionagem desenvolvida pela NSO. O Pegasus tem a capacidade de invadir dispositivos celulares sem que o usuário perceba, contornando criptografias de aplicativos de mensagens. Além disso, a venda do Pegasus depende de uma autorização formal do governo israelense.
Após os contatos iniciais, os lobistas conseguiram se reunir com Ramagem para apresentar o Pegasus, mas não foi confirmado se a Abin, de fato, adquiriu a ferramenta. É importante ressaltar que, naquela época, a Abin já operava ilegalmente um programa de espionagem chamado FirstMile, adquirido anteriormente da empresa israelense Cognyte Software Ltd.
A utilização do FirstMile pela Abin foi revelada em uma reportagem do jornal O Globo, que indicou o monitoramento ilegal de mais de 30 mil celulares. Dentre os monitorados estavam o jornalista americano Glenn Greenwald, seu marido o deputado federal David Miranda e um agente do Ibama, Hugo Loss.
Toda essa situação levanta questões sobre a regulamentação e o uso ético desses dispositivos de espionagem, uma vez que o Brasil se tornou um celeiro da arapongagem clandestina nas esferas oficiais. Especialistas destacam a necessidade de regras claras para o uso desses dispositivos, visto que a ausência de regulamentação propicia desvios éticos e legais.
Em uma extensa investigação sobre o mercado de espionagem ilegal, a revista Piauí constatou que o Brasil se tornou um ambiente propício para a arapongagem, envolvendo não apenas a Abin e a Polícia Federal, mas também as polícias estaduais e até mesmo o Exército. Esse cenário levanta preocupações sobre a privacidade e os direitos individuais, uma vez que a espionagem oficial pode atingir tanto cidadãos comuns quanto disputas internas de poder dentro das instituições.
Dessa forma, é fundamental que as autoridades brasileiras atuem no sentido de regulamentar o uso dessas ferramentas de espionagem e garantir a proteção dos direitos individuais dos cidadãos, evitando o abuso e a violação da privacidade.