De acordo com Lucía Wegelin, socióloga argentina que estuda os discursos de ódio na esfera pública do país, as ideias de Milei têm dominado o debate público desde as primárias, em agosto, até agora, às vésperas do segundo turno. Ela afirma que o “efeito Milei” já pode ser observado no país, mesmo antes do resultado eleitoral, e suas propostas têm efeitos preocupantes além do risco que representam para a convivência democrática.
As propostas inusitadas de Milei incluem a dolarização da economia, a liberação da venda de órgãos humanos e até mesmo a criação de um “mercado de adoção de bebês”. Essas ideias têm chocado os eleitores, mas Wegelin afirma que é necessário levar a sério tais propostas e debatê-las para mostrar que são perigosas.
Além disso, Milei tem adotado uma postura violenta em relação a pautas históricas, como negar os crimes cometidos durante a ditadura militar argentina. Durante um debate presidencial, ele questionou o número de desaparecidos e afirmou que faltaria contar as vítimas das guerrilhas. Wegelin ressalta que essa postura é um problema político, já que os crimes cometidos durante a ditadura foram organizados e planejados pelo Estado.
No entanto, apesar das propostas e posturas controversas de Milei, ele conseguiu surpreender ao ser o mais votado nas primárias. Embora tenha sido ultrapassado por Massa no primeiro turno das presidenciais, Milei pode atrair os votos de Patricia Bullrich, que anunciou formalmente seu apoio a ele no segundo turno.
Wegelin ressalta que a violência discursiva tolerada e as operações que favorecem o ódio na política têm contribuído para a ascensão de candidatos como Milei. Ela afirma que o uso dessas operações nas redes sociais tem levado ao rompimento dos limites do dizível, o que torna ainda mais preocupante a qualidade do debate público. Além disso, a pesquisadora destaca que as propostas perigosas e o discurso violento dos candidatos têm o potencial de perturbar as regras do dizer público e comprometer a democracia.
Em resumo, a eleição presidencial na Argentina não é apenas mais um pleito, pois já está sendo influenciada pelas propostas controversas e violentas de Javier Milei. As ideias do ultraliberal de extrema direita representam um risco para a democracia e permitem o uso da violência na política. É necessário levar a sério tais propostas e debatê-las para evidenciar os perigos que elas representam. Além disso, a ascensão de candidatos como Milei mostra a problemática da violência discursiva tolerada e das operações que favorecem o ódio na política, as quais comprometem a qualidade do debate público e a convivência democrática.