Corpo de gambá encontrado em parque de Campinas é infectado com vírus da raiva, aponta estudo de pesquisadores da USP.

Corpo de saruê é encontrado em Campinas e causa da morte acende alerta

Um grupo de pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz, da USP (Universidade de São Paulo) e de instituições de saúde pública de São Paulo e Campinas determinou a causa da morte de uma fêmea de gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) encontrado no Parque Bosque dos Jequitibás, em Campinas, no ano de 2021. O mamífero, também conhecido como saruê ou sariguê, teve sua morte atribuída à meningoencefalite causada por infecção pelo vírus da raiva.

O resultado do estudo foi publicado na revista Emerging Infectious Diseases, e trouxe um alerta sobre a presença do vírus, que é mortal para humanos, no ambiente urbano. O pesquisador Eduardo Ferreira Machado, que conduziu o trabalho durante seu doutorado na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ-USP) com bolsa da Fapesp, alerta para a importância de monitorar outros mamíferos que possam ser vetores do vírus, principalmente animais negligenciados por esse tipo de vigilância, como os gambás.

Segundo os pesquisadores, os sinais neurológicos da doença detectados no animal sugerem a forma de raiva que causa paralisia e é transmitida por morcegos. Além disso, a detecção de partículas virais em outros órgãos indicou que a infecção estava na fase de espalhamento sistêmico.

O gambá foi um dos 22 testados para raiva e outras doenças pela equipe no âmbito de um projeto de vigilância epidemiológica realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e o Centro de Controle de Zoonoses de Campinas. Além disso, a equipe analisou 930 morcegos, 30 dos quais foram positivos para a raiva.

A transmissão entre morcegos e gambás pode se dar pela competição por hábitats, tanto naturais quanto fornecidos por humanos, como os sótãos de casas. Um caso de raiva em um gato, notificado em Campinas em 2014, tinha o vírus de uma variante encontrada em morcegos. Os pesquisadores enfatizam a importância de monitorar os animais silvestres que vivem nas cidades, como os gambás, para evitar a transmissão da raiva e outras doenças para os humanos.

Os pesquisadores lembram que, apesar de um estudo dos anos 1960 sugerir que os gambás seriam resistentes ao vírus da raiva, o estudo brasileiro mostra que a transmissão ocorre e precisa ser monitorada. Além disso, pretendem firmar parcerias com instituições em outros países, como a Austrália, para continuar os estudos e fazer comparações úteis para os dois países.

Portanto, as descobertas desse estudo ressaltam a importância de monitorar e estudar os animais negligenciados, como os gambás, para garantir a saúde pública e evitar a transmissão de doenças zoonóticas para os seres humanos.

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