A Vanessa cardui é uma das borboletas mais amplamente distribuídas do mundo, mas não é comum na América do Sul. A presença delas na areia despertou a curiosidade de Talavera, que imaginou que as borboletas estivessem se recuperando de uma longa jornada.
Esses insetos são conhecidos por suas viagens de longa distância, atravessando o Saara em direção à África subsaariana, cobrindo até 14,5 mil quilômetros. Mas será que teriam sido capazes de realizar uma jornada de 4.200 quilômetros sobre o oceano Atlântico, sem paradas para descanso e reabastecimento? Essa era a questão que instigava Talavera.
O desafio de seguir os movimentos desses insetos em viagens longas é enorme, uma vez que os dispositivos de rastreamento disponíveis são muito grandes para os corpos delicados das borboletas. Portanto, os cientistas precisam confiar em suposições e observações para entender os padrões de viagem desses animais.
Utilizando uma ferramenta de sequenciamento genético para analisar o DNA do pólen presente nas borboletas, Talavera e sua equipe conseguiram desvendar parte do mistério das borboletas encalhadas. O pólen encontrado nas borboletas na Guiana Francesa correspondeu a arbustos em países da África Ocidental, florescendo entre agosto e novembro, coincidindo com a chegada das borboletas.
Os pesquisadores também sequenciaram os genomas das borboletas e descobriram suas origens europeias e africanas, eliminando a possibilidade de terem voado sobre a América do Norte. Com essas evidências, foi possível confirmar que as borboletas fizeram a primeira jornada transoceânica já registrada por um inseto.
O trabalho de detetive biológico realizado por Talavera e sua equipe revelou um aspecto surpreendente da vida desses insetos e destacou a importância das migrações de insetos para a dispersão de pólen e a manutenção dos ecossistemas globais. A descoberta das borboletas Vanessa cardui demonstrou a resistência e a capacidade desses pequenos seres de enfrentar desafios incríveis em sua jornada pelo mundo.