Em uma de suas obras, um filme exibe um menino indígena apontando a câmera para a lente, como se estivesse se defendendo de algo, e com isso, convida os espectadores a refletirem sobre a relação de olhar e ser olhado. Essa troca de perspectivas é um dos temas recorrentes nas obras de Glicéria, que valoriza a ancestralidade e a resistência dos povos indígenas.
Uma das instalações de Glicéria no pavilhão brasileiro é uma grande rede que envolve a projeção do filme, representando a teia de relações e tradições que são passadas de geração em geração. A artista também costurou dois mantos inspirados nos utilizados pelos tupinambás, resgatando a técnica ancestral de confecção dessas peças.
Além de seu trabalho artístico, Glicéria também desafia o debate sobre a repatriação de obras históricas, como o manto tupinambá que foi devolvido após negociações lideradas por ela. A artista argumenta que essas peças não foram simplesmente roubadas, mas sim refletem a presença e a história dos indígenas no contexto europeu.
Outro artista indígena que se destaca na Bienal é Ziel Karapotó, que utiliza as redes de pesca como elementos simbólicos em sua instalação. Por meio de cardumes de maracás e balas de armas de fogo, ele denuncia as violações dos direitos dos povos indígenas e evidencia sua resistência e força como sujeitos autônomos.
A presença marcante dos artistas indígenas brasileiros na Bienal de Veneza deste ano reflete a importância de dar visibilidade e voz a essas comunidades, que enfrentam desafios constantes em relação à preservação de suas terras, culturas e identidades. A arte desses artistas não só emociona e provoca reflexões, mas também reforça a necessidade de respeitar e valorizar a diversidade e a riqueza cultural do Brasil.