Um estudo realizado pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP, identificou 710 postagens em grupos de Telegram pró-Milei que endossavam essa teoria. Metade de todo o conteúdo sobre fraude eleitoral circulou nesses dois dias, superando os 295 dias anteriores. No antigo Twitter, 53,7% das 28.617 postagens com narrativas de eleições fraudulentas foram compartilhadas no mesmo dia, indicando uma rápida mobilização e engajamento nessa teoria.
Muitas das publicações sugerem uma conspiração para impedir que os eleitores votem em Milei. Mensagens idênticas, replicadas por vários perfis diferentes, afirmam que não havia cédulas com a opção pelo candidato ultraliberal. Esse padrão indica o uso de bots, contas automatizadas que fingem ser pessoas reais.
Segundo Pablo Ortellado, professor da USP e um dos autores do estudo, esse roteiro tem semelhanças com o que ocorreu nos Estados Unidos em 2020 e no Brasil em 2022, quando Trump e Bolsonaro colocaram em dúvida a integridade do sistema eleitoral de seus países. Milei, assim como Bolsonaro, utiliza a retórica da fraude eleitoral mesmo antes do resultado final das eleições. Ele já questionou a vitória de Bolsonaro sobre Fernando Haddad em 2018 e sugeriu que Aécio Neves teria vencido Dilma Rousseff em 2014.
No entanto, não há provas que confirmem essas suspeitas de fraude eleitoral na Argentina. A Justiça Eleitoral pediu ao partido de Milei provas sobre a possibilidade de fraude, mas não obteve resposta. Casos isolados, como um vídeo em que um fiscal peronista supostamente instrui militantes a roubar cédulas de Milei, fazem parte do folclore eleitoral argentino, mas nenhum esquema mais amplo foi confirmado.
A reprise do argumento de fraude eleitoral também ganhou espaço entre os apoiadores do presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Canais populares, como a Revista Oeste, disseminaram essa ideia. No entanto, veículos de esquerda, como o blog O Cafezinho, abordaram essa teoria de forma cômica, questionando se os argentinos também pediriam urnas eletrônicas.
Eduardo Bolsonaro, deputado e filho do presidente, foi à Argentina acompanhar o pleito e a família se entusiasmou com a candidatura de Milei. Mesmo que Milei não tenha afirmado publicamente que houve fraude eleitoral, suas redes sociais foram tomadas por essa teoria, inclusive com o uso de bots.
Em suma, os apoiadores de Javier Milei na Argentina têm levantado suspeitas de fraude eleitoral, seguindo o exemplo de outros políticos como Trump e Bolsonaro. No entanto, não há evidências concretas que confirmem essas suspeitas.