No entanto, quando se trata de atividade física relacionada ao trabalho, a situação muda. Enquanto as atividades físicas realizadas durante o tempo livre trazem inúmeros benefícios à saúde, as atividades físicas ocupacionais aumentam os riscos de doenças cardíacas, transtornos mentais, baixa qualidade do sono e até mesmo mortalidade em homens. Esse paradoxo da atividade física ainda é pouco estudado, mas há evidências que o respaldam.
A maioria dos estudos que associam a prática de atividade física ocupacional a malefícios à saúde apresenta baixa qualidade metodológica, pois nem sempre levam em consideração as variáveis que podem confundir a interpretação dos resultados. Por exemplo, é importante considerar que trabalhadores braçais enfrentam condições de vida precárias, o que pode melhor explicar os problemas de saúde enfrentados por esse grupo, e não necessariamente a atividade física em si.
Apesar disso, há estudos que confirmam o paradoxo da atividade física ocupacional. Um estudo realizado com faxineiros dinamarqueses, por exemplo, revelou que, embora a intervenção de exercícios aeróbios tenha melhorado a capacidade cardiopulmonar dos participantes, também causou um aumento inesperado na pressão arterial sistólica. Isso levou os pesquisadores a recomendarem prudência na prescrição de exercícios para trabalhadores já exauridos pelo esforço laboral.
Ainda não está completamente claro por que a atividade física ocupacional pode ser prejudicial à saúde, mas estudos indicam que ela pode provocar aumento na pressão arterial, na frequência cardíaca e em marcadores inflamatórios. Além disso, trabalhadores exaustos tendem a aderir menos a atividades físicas intensas durante o tempo livre, o que resulta em um menor condicionamento aeróbio e aumento do risco cardiovascular.
O problema se agrava quando o trabalho envolve jornadas longas, levantamento repetitivo de cargas e exposição a condições climáticas adversas, além de não permitir pausas adequadas para descanso, alimentação e hidratação. Quando o trabalhador braçal também possui alguma doença crônica, o risco se amplifica ainda mais.
Enquanto a atividade física ocupacional pode parecer benigna em um primeiro olhar, combinada com jornadas exaustivas e condições precárias de trabalho, acaba por afetar tanto a mente quanto o corpo dos trabalhadores. Infelizmente, nem todos têm a oportunidade de trocar atividades ocupacionais por atividades de lazer. Esse é o paradoxo da atividade física, que poderia muito bem ser considerado o paradoxo do neoliberalismo.
É importante conscientizar-se sobre essa questão e buscar alternativas para reduzir os riscos ligados à atividade física ocupacional. O cuidado com a saúde dos trabalhadores deve ser uma preocupação de todos, visando garantir uma vida longa e saudável para todos, independentemente de sua ocupação.