A inatividade física ocupacional: o paradoxo que afeta a saúde dos trabalhadores

A falta de movimento é responsável pela morte de cerca de 5 milhões de pessoas em todo o mundo a cada ano. Diante desse cenário preocupante, torna-se essencial fugir da inatividade e do sedentarismo, como recomendam os principais guias especializados. Todas as formas de atividade física são válidas, seja no lazer, no esporte, no deslocamento ou em casa, pois acumular movimento aumenta as chances de uma vida longa e livre de doenças crônicas.

No entanto, quando se trata de atividade física relacionada ao trabalho, a situação muda. Enquanto as atividades físicas realizadas durante o tempo livre trazem inúmeros benefícios à saúde, as atividades físicas ocupacionais aumentam os riscos de doenças cardíacas, transtornos mentais, baixa qualidade do sono e até mesmo mortalidade em homens. Esse paradoxo da atividade física ainda é pouco estudado, mas há evidências que o respaldam.

A maioria dos estudos que associam a prática de atividade física ocupacional a malefícios à saúde apresenta baixa qualidade metodológica, pois nem sempre levam em consideração as variáveis que podem confundir a interpretação dos resultados. Por exemplo, é importante considerar que trabalhadores braçais enfrentam condições de vida precárias, o que pode melhor explicar os problemas de saúde enfrentados por esse grupo, e não necessariamente a atividade física em si.

Apesar disso, há estudos que confirmam o paradoxo da atividade física ocupacional. Um estudo realizado com faxineiros dinamarqueses, por exemplo, revelou que, embora a intervenção de exercícios aeróbios tenha melhorado a capacidade cardiopulmonar dos participantes, também causou um aumento inesperado na pressão arterial sistólica. Isso levou os pesquisadores a recomendarem prudência na prescrição de exercícios para trabalhadores já exauridos pelo esforço laboral.

Ainda não está completamente claro por que a atividade física ocupacional pode ser prejudicial à saúde, mas estudos indicam que ela pode provocar aumento na pressão arterial, na frequência cardíaca e em marcadores inflamatórios. Além disso, trabalhadores exaustos tendem a aderir menos a atividades físicas intensas durante o tempo livre, o que resulta em um menor condicionamento aeróbio e aumento do risco cardiovascular.

O problema se agrava quando o trabalho envolve jornadas longas, levantamento repetitivo de cargas e exposição a condições climáticas adversas, além de não permitir pausas adequadas para descanso, alimentação e hidratação. Quando o trabalhador braçal também possui alguma doença crônica, o risco se amplifica ainda mais.

Enquanto a atividade física ocupacional pode parecer benigna em um primeiro olhar, combinada com jornadas exaustivas e condições precárias de trabalho, acaba por afetar tanto a mente quanto o corpo dos trabalhadores. Infelizmente, nem todos têm a oportunidade de trocar atividades ocupacionais por atividades de lazer. Esse é o paradoxo da atividade física, que poderia muito bem ser considerado o paradoxo do neoliberalismo.

É importante conscientizar-se sobre essa questão e buscar alternativas para reduzir os riscos ligados à atividade física ocupacional. O cuidado com a saúde dos trabalhadores deve ser uma preocupação de todos, visando garantir uma vida longa e saudável para todos, independentemente de sua ocupação.

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