Bebê Rena e Ripley: as séries viciantes que desafiam o padrão feel good no mundo do streaming

Na última semana, fui fisgado por duas séries incríveis disponíveis na Netflix: “Bebê Rena” e “Ripley”. Ambas são verdadeiros sucessos de público e crítica, conquistando uma legião de fãs ao redor do mundo. Prepare-se, pois spoilers pesados estão chegando nos próximos parágrafos.

“Bebê Rena” conta a história de um artista atormentado que se vê mergulhado em uma situação de abusos morais, sexuais e psicológicos, levando-o a um profundo autodesprezo. A série é sombria, angustiante e corajosa ao explorar as nuances da mente de um homem atormentado, principalmente pela perseguição obsessiva de sua stalker. O mais surpreendente é saber que essa trama é baseada nas experiências reais do criador e protagonista, Richard Gadd.

Já em “Ripley”, a nova adaptação do livro de Patricia Highsmith, somos apresentados a um sociopata em busca de uma vida burguesa. Andrew Scott interpreta um Tom Ripley muito mais macabro, violento e cativante do que a versão anterior interpretada por Matt Damon. A trama é repleta de reviravoltas e tensão, prendendo a atenção do espectador a cada episódio.

Enquanto nos Estados Unidos e outros países são produzidas séries densas, complexas e reais, aqui no Brasil ainda nos deparamos com a ideia de que precisamos criar histórias “feel good” com personagens leves e romances simplificados. No entanto, exemplos como “Fleabag” e “Cenas de um Casamento” mostram que o público está pronto para narrativas mais desafiadoras e controversas.

A resistência dos executivos em aprovar roteiros que abordam temas polêmicos e personagens moralmente ambíguos é um reflexo do conservadorismo presente na indústria audiovisual brasileira. Enquanto séries estrangeiras como “Succession” e “The White Lotus” ganham destaque pela complexidade de seus personagens, por aqui ainda lutamos para romper com os estereótipos e clichês.

É fundamental que os produtores e financiadores de conteúdo abram suas mentes para a diversidade de temas e abordagens na criação de novas produções. A arte deve refletir a realidade, com suas nuances, contradições e conflitos, e não se restringir a um padrão preestabelecido de “bom-mocismo”.

Em um cenário em constante evolução, é essencial que a indústria audiovisual brasileira se reinvente, apostando em narrativas instigantes e provocativas. Somente assim poderemos conquistar nosso espaço no mercado internacional e produzir conteúdos que realmente impactem e emocionem o público.

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