Sentar em um quiosque à beira da praia, degustar uma deliciosa porção de pata de caranguejo e apreciar a vista do mar é um hábito apreciado por muitos brasileiros e turistas que visitam o Brasil. No entanto, para quem está em uma das praias do Nordeste, é importante lembrar que o caranguejo servido provavelmente percorreu pelo menos 1.500 km até chegar ali, vindo dos preservados manguezais da região Norte.
Diferentemente de grande parte da costa brasileira, os manguezais do Norte do país continuam conservados, o que garante o ecossistema essencial para a sobrevivência do caranguejo-uçá, principal espécie de valor comercial no Brasil. Assim, a maioria dos caranguejos consumidos no Nordeste são provenientes da região Norte, preservada devido à baixa densidade populacional e à presença de unidades de conservação, como as Reservas Extrativistas.
O caranguejo-uçá é uma espécie endêmica dos manguezais, com distribuição que vai desde a Flórida, nos Estados Unidos, até Santa Catarina, no Brasil. Os machos e fêmeas apresentam características específicas que os diferenciam, como o formato do ventre e a maturidade sexual tardia, alcançada somente após seis a oito anos de vida.
A captura do caranguejo é uma tarefa complexa, exigindo habilidade dos pescadores. Durante o período de reprodução, conhecido como “andada”, machos e fêmeas saem das tocas para o acasalamento, tornando-se vulneráveis à captura. No entanto, desde 2003, o governo instituiu o defeso do caranguejo, período no qual a pesca e qualquer atividade envolvendo o animal são proibidas.
Apesar das leis de proteção, a falta de pagamento do “salário-defeso” para os catadores de caranguejo é um ponto de preocupação. Pescadores e moradores de áreas de conservação respeitam as normas, mas sentem a necessidade de receber um auxílio financeiro durante o período restritivo.
A preservação dos manguezais e do caranguejo-uçá é crucial não apenas para a biodiversidade, mas também para as comunidades locais que dependem desse recurso como base econômica. Projetos de educação ambiental e esforços de conservação são essenciais para garantir a sobrevivência dessa espécie e desses ecossistemas tão importantes para o Brasil.
