Relatório da PF aponta disputa política em torno de regularização fundiária como motivação para assassinato de Marielle Franco

Um importante e complexo desenrolar das investigações sobre o brutal assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, veio à tona com a divulgação do relatório final do inquérito da Polícia Federal (PF). O documento revela que a motivação para o crime pode ter raízes em uma disputa política envolvendo um projeto de regularização fundiária.

No último domingo (24), a prisão dos irmãos Domingos, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), e Chiquinho Brazão, deputado federal, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), como possíveis mandantes do crime, trouxe ainda mais luz à investigação em curso. Segundo a PF, a principal hipótese de motivação para o crime seria uma discordância política dos irmãos, políticos de renome no Rio de Janeiro, com representantes do PSOL, especialmente com Marielle.

O relatório aponta que a votação contrária de Marielle e do PSOL a um projeto de regularização de terras proposto por Chiquinho Brazão em 2017, quando este ainda era vereador, pode ter sido o estopim para a decisão de eliminá-la. A PF destaca que a atuação das milícias em áreas como Rio das Pedras, reduto eleitoral da família Brazão, estaria centrada em invasões e grilagens de terras, atividades fundamentais para as organizações milicianas.

As milícias, grupos armados fortemente ligados a agentes do Estado e políticos, exercem controle armado sobre territórios no Rio de Janeiro. Além de impor taxas e controlar atividades econômicas ilegais, como o comércio de produtos alimentícios, a milícia se expande para a exploração imobiliária. A regularização dessas terras ocupadas ilegalmente favorece não só ganhos financeiros para as milícias, mas também cria um curral eleitoral.

A eventual recompensa oferecida a Ronnie Lessa, suspeito de efetuar os disparos contra Marielle, com dois terrenos na Praça Seca, evidencia a abrangência dos interesses criminosos por trás do crime. A pesquisadora Carolina Grillo ressalta que a criação de uma milícia própria por parte de Lessa não apenas visava lucro financeiro, mas colocaria toda uma população sob o jugo das práticas de extorsão da milícia.

O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, destaca a importância de políticas de reforma urbana e agrária, demarcação de terras indígenas e quilombolas, e a regularização fundiária como pilares essenciais para combater o controle territorial exercido pelo crime organizado. Essas medidas, associadas à defesa dos direitos humanos e à promoção da cidadania, seriam cruciais para combater a ascensão das milícias e garantir a segurança pública.

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