Pensão para filhos separados de pais com hanseníase entre 1930 e 1980 aguarda regulamentação para início de pagamento

Aos 56 anos, o pedreiro Marcos Roberto Meli revela a dificuldade em definir suas emoções ao ser separado de seus pais logo após o nascimento. Sem o colo materno e sem a presença familiar desde o início de sua vida, ele foi levado para uma creche e posteriormente para um educandário administrado por freiras. Essa política de segregação era praticada no Brasil para os filhos de portadores de hanseníase, uma doença estigmatizada na época.

Após mais de uma década de luta por indenização, Marcos e cerca de 14 mil brasileiros aguardam pelo início do pagamento de uma pensão, finalmente concedida a filhos de portadores de hanseníase separados dos pais entre as décadas de 1930 e 1980. Estima-se que 40 mil bebês tenham sido retirados de seus pais, a maioria já falecida. A lei que garante essa pensão foi aprovada no Congresso e sancionada pelo presidente Lula em dezembro.

Marcos teve um papel ativo nessa batalha por indenização, participando de uma comissão de filhos de portadores de hanseníase e reunindo esforços para viagens a Brasília a fim de dialogar com deputados e senadores. Com a aprovação da lei, o pedreiro espera que o pagamento da pensão seja iniciado em breve, proporcionando condições para realizar seus sonhos de se casar e ter filhos.

Morando atualmente com um casal de idosos portadores de hanseníase na colônia de Pirapitingui, em Itu, Marcos relembra a difícil convivência com seus pais quando foi autorizado a morar com eles apenas aos 12 anos. A separação familiar forçada e o estigma da doença marcaram sua infância e adolescência, mas aos poucos ele conseguiu construir laços afetivos com seus pais.

O antigo asilo-colônia de Itu, onde Marcos vive, abriga ex-pacientes de hanseníase e seus familiares, sendo tombado como Patrimônio Histórico de São Paulo em 2017. O local hoje se assemelha a uma cidade fantasma, com construções em ruínas e cobertas pelo mato. O hospital Dr. Francisco Ribeiro Arantes é referência no tratamento da hanseníase, atendendo a 175 pacientes.

No Brasil, a hanseníase é uma doença que afeta milhares de pessoas anualmente, com mais de 20 mil diagnósticos somente em 2023. Transmitida por um bacilo e provocando manchas na pele, a hanseníase requer diagnóstico precoce para facilitar o tratamento e a cura. Marcos e Thiago, como muitos filhos de portadores de hanseníase, nunca foram infectados, demonstrando a importância da informação e do cuidado na prevenção da doença.

Com a nova lei de pensão aprovada e a perspectiva de um recomeço, Marcos e outros milhares de brasileiros aguardam ansiosos pelo início do pagamento do benefício e pela possibilidade de um futuro mais tranquilo e digno.

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