General negro assume o comando da 6ª Região Militar, mas diversidade é desafio na cúpula do Exército Brasileiro.

Em dezembro passado, o Exército Brasileiro presenciou um fato pouco comum. O general André Luiz Aguiar Ribeiro assumiu o comando da 6ª Região Militar (RM), ficando à frente das tropas e atividades do Exército nos Estados da Bahia e de Sergipe. Ribeiro tornou-se apenas o terceiro negro a atingir a patente de general de Divisão, um feito notável em uma instituição onde a presença de oficiais negros nessa posição é praticamente inexistente.

De acordo com o pesquisador e jornalista Sionei Leão, autor do livro “Kamba’Race – Afrodescendências no Exército Brasileiro”, a ascensão do general Ribeiro à essa posição estratégica é um marco histórico. Sua promoção representa a possibilidade de ser o primeiro general de Exército negro em mais de 200 anos de história do Exército Brasileiro. No entanto, apesar da presença significativa de negros na condição de oficiais de carreira na corporação, o quadro muda consideravelmente quando se chega ao generalato.

O Exército brasileiro possui uma tradição conservadora e paradoxal quando o assunto é diversidade racial. Mesmo o mito de Guararapes, tido como marco da formação do Exército, apresenta uma aparente contradição diante da ausência de generais afrodescendentes e da resistência da instituição em abordar questões raciais.

O general Ribeiro, de 56 anos, também teve uma origem modesta, com uma educação cartesiana e princípios sólidos, que combinou com os valores e ética militar ao longo de sua carreira. Formado na Academia Militar das Agulhas Negras em 1989, o general possui um currículo impressionante, incluindo um curso no South African National War College.

Assumindo o comando da 6ª RM, o general terá inúmeros desafios pela frente. A região enfrenta não só problemas de segurança pública, mas também o impacto de uma seca severa e prolongada, que resultou na declaração de emergência em 195 dos 417 municípios do estado da Bahia.

Apesar dessa trajetória notável, o Exército ainda se mostra hesitante e relutante em abordar temas relacionados à diversidade étnica. Tanto o general Ribeiro quanto a instituição mantiveram-se em silêncio diante do debate sobre a falta de representatividade de oficiais negros em posições de liderança. Não só o Exército brasileiro, mas as forças armadas no geral, ainda têm que lidar com questões de inclusão e diversidade em suas fileiras. A nomeação do general André Luiz Aguiar Ribeiro como comandante da 6ª Região Militar representa um avanço, mas também coloca em pauta a necessidade de uma abordagem mais inclusiva e equitativa na instituição.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo