PF investiga se Alexandre Ramagem atendia a pedidos de Carlos Bolsonaro mesmo fora da Abin

A Polícia Federal (PF) está investigando se o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, ainda tinha acesso aos sistemas e atendia a pedidos da família do ex-presidente Jair Bolsonaro. A suspeita surgiu após a apreensão de um notebook e um celular da Abin com Ramagem, que deixou o comando da agência quase dois anos atrás, em 31 de março de 2022. A Abin afirmou que não deu falta dos equipamentos e que a responsabilidade de devolvê-los era de Ramagem, que por sua vez afirmou que os dispositivos não eram utilizados há mais de três anos.

Um segundo indicativo que gerou desconfiança é o pedido feito pelo vereador Carlos Bolsonaro, através de uma assessora, para obter dados de investigações de interesse da família Bolsonaro. A PF busca descobrir se, mesmo fora da agência, Ramagem usou clandestinamente suas credenciais para acessar os sistemas de inteligência, ou se ele teria se valido de aliados na Abin para obter informações. Sete policiais federais que auxiliavam Ramagem na agência foram afastados por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).

A Abin é o principal órgão do sistema de inteligência federal e tem como atribuição produzir informações estratégicas sobre temas sensíveis, como ameaças à democracia e às fronteiras, segurança das comunicações do governo, política externa e terrorismo. A PF acredita que a agência foi instrumentalizada no governo Bolsonaro e utilizada para atender interesses privados do grupo político do ex-presidente.

Segundo as investigações, aliados de Bolsonaro infiltrados na Abin faziam parte de um grupo mais amplo responsável por um suposto serviço clandestino de “contrainteligência”. A suspeita é de que Ramagem, mesmo após deixar a agência, ainda mantinha conexões que lhe permitiam acessar informações privilegiadas e atender aos pedidos da família do ex-presidente.

Essas investigações apontam para uma possível utilização indevida dos aparatos de inteligência do Estado em benefício de interesses particulares de uma família política. A situação levanta questões sobre a integridade e a transparência das instituições públicas, além de colocar em xeque a linha tênue entre o uso legítimo da inteligência para a segurança nacional e o seu emprego para fins pessoais e políticos.

A investigação da Polícia Federal está em curso, e mais detalhes devem surgir nos próximos dias, à medida que novas informações forem apuradas e um quadro mais claro da situação se estabelecer. Este é mais um capítulo que se desdobra na complexa trama de relações entre o governo e as instituições brasileiras, e que merece atenção e escrutínio por parte da sociedade e das autoridades responsáveis.

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