Mestre Paulo Cruz: a vida e tradição do Reisado das Caraíbas no sertão de Pernambuco

Há mais de 85 anos, o sertão de Pernambuco é palco do Reisado das Caraíbas, uma tradição que alegra as noites de luar na região. Vestidos em trajes azuis e vermelhos, com chapéus adornados com fitas coloridas e enfeites, os brincantes entoam a canção “Eu Vou Sair na Brincadeira”, de autoria do mestre Paulo Cruz.

Nascido em 1947, no sítio Descobrimento, zona rural de Arcoverde, Paulo Pereira Cruz cresceu na lida da roça, tendo sido criado em uma família grande, que contava com 20 irmãos, incluindo oito que foram adotados. Ele e o irmão Antônio cresceram cantando o reisado, uma tradição que foi iniciada por seu pai, José Pereira Cruz.

O Reisado das Caraíbas era uma tradição familiar, sendo uma prática antiga que remonta aos anos 1960, quando os irmãos já se dedicavam à brincadeira nas semanas santas. Mesmo sem energia elétrica, eles aproveitavam as noites de luar e faziam fogueiras para a iluminação, seguindo o exemplo dos escravos que dançavam da mesma forma.

Paulo Cruz casou-se com sua prima, Cacilda Ferreira Cruz, e tiveram sete filhos. Ao longo de sua vida, o mestre se dividia entre o sertão e Recife, trabalhando em empreiteiras na capital durante os períodos de seca e retornando para a roça nos momentos de chuva. Além de sua dedicação ao reisado, Cruz também era um talentoso jogador de futebol, sendo convidado a jogar pelo Vasco de Arcoverde.

Sua atuação à frente da Associação Cultural Reisado de Caraíbas foi marcante, e ele também ajudou a divulgar a tradição em várias partes do país, levando a prática para Paraíba, São Paulo e dezenas de cidades no interior nordestino.

Paulo Cruz faleceu recentemente, aos 76 anos, deixando um legado que é mantido por sua grande família. Seus descendentes mantêm a tradição, com três filhos e dois netos fazendo parte do grupo de reisado, e até mesmo um bisneto que já é “dançador”.

A morte do mestre representou uma grande perda para a comunidade, que o descreve como alguém que “morreu trabalhando”, já que ainda teve tempo de fazer suas colheitas de feijão, milho e fava antes de partir.

Seu legado e sua contribuição para a preservação da cultura do reisado serão sempre lembrados por sua família, amigos e admiradores.

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