Familiares de detentos enfrentam dificuldades para visita em prisões do Distrito Federal

No dia 27 de setembro, um grupo de familiares de detentos aguardava ansiosamente do lado de fora do complexo penitenciário da Papuda, no Distrito Federal. Composto majoritariamente por mulheres, muitas delas mães, esposas e irmãs dos presidiários ali detidos, o grupo chegou cedo carregando o “cobal”, como são conhecidos os alimentos que levam para os detentos. No entanto, chegar antes das 14h, que é o horário limite para iniciar a visita, não garantia necessariamente o acesso à visita. O processo para entrar demandava três etapas: retirada de senha, verificação do cobal e passagem pelo scanner.

Apesar disso, nem todas as pessoas que aguardavam na fila conseguiram entrar. A reportagem observou um policial penal barrando uma visitante por considerar que ela não estava vestida de forma apropriada e, mesmo diante do pedido dela para se trocar, o direito foi negado. Além dessa situação, os familiares ainda foram orientados a evitar usar o banheiro e até a consumir água, pois as instalações de visita não dispõem de condições sanitárias adequadas.

Durante a visita, a reportagem teve a oportunidade de entrevistar familiares, que compartilharam relatos sobre as dificuldades enfrentadas para visitar os detentos, bem como as condições precárias do sistema prisional. Uma das entrevistadas, Bruna Oliveira, líder do coletivo Mães e Esposas em Luta, enfatizou a estigmatização sofrida por essas famílias e a falta de reconhecimento do seu papel na ressocialização dos detentos.

Segundo a professora Juliana de Farias, visitante no Programa de Pós-graduação em Sociologia da UnB, existe uma forte criminalização dos familiares de detentos, que muitas vezes são estigmatizados e até perdem o emprego por causa da situação de seus parentes. Essa realidade não é exclusiva do Distrito Federal, como revelado em relatos de familiares de presos no Maranhão, compartilhados em outra reportagem da Folha de S. Paulo.

Além disso, essas famílias enfrentam ainda problemas como a falta de visita íntima, que é uma das violações de direitos mais impactantes relatadas. A advogada e professora Camila Prando ressalta que, ao interferir no direito à visita íntima, se agrava a situação dos detentos, sendo uma questão que culmina em uma desigualdade de gênero nas prisões femininas.

Portanto, fica evidente que a situação dos familiares de detentos vai muito além das dificuldades de acesso e das condições no local de visitação, apontando para uma série de violações dos direitos humanos que merecem atenção e resolução por parte das autoridades. As famílias representam uma voice importante na luta pela melhoria do sistema prisional e devem ser ouvidas e reconhecidas em suas demandas.

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