Comunidade quilombola do Grotão luta por titulação do território e gera emprego a partir do samba

Roda de samba do Grotão celebra resistência e fortalece comunidade quilombola

Localizado em uma estrada cercada por mata atlântica, o quilombo do Grotão, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, promove rodas de samba que reúnem dezenas de pessoas todos os finais de semana. Em 2023, completam-se 20 anos desde que Renato, líder da comunidade, decidiu criar o evento para celebrar a cultura e resistência quilombola.

A história da comunidade tem suas raízes na chegada de Manoel Bonfim e Maria Vicenza, vindos de Sergipe nos anos 1920 para trabalhar na fazenda Engenho do Mato. Após quase 30 anos como funcionários, eles receberam uma fração de terra, doada pela proprietária. Porém, após a morte da mesma, seus descendentes contestaram a doação.

O neto do casal, José Renato Gomes da Costa, conhecido como Renatão, relembra que a família sofria constantes ameaças de expulsão e era alvo de racismo, chegando a serem chamados de morro dos macacos. Após a morte de Manoel Bonfim, o sítio passou a ser administrado por Manoel Lisboa, pai de Renato.

Com a criação do Parque Estadual da Serra da Tiririca em 1991, onde está situado o quilombo, e a posterior transformação em Unidade de Proteção Integral, Renato e as 14 famílias do Grotão correram o risco de serem expulsos do local. Foi a memória das festas promovidas por Bonfim e sua família que inspirou Renato a criar as rodas de samba em 2003, juntamente com a tradicional feijoada, abertas para todos. A renda dos eventos ajudou a comunidade a criar uma associação para lutar pela permanência no território.

O reconhecimento da comunidade como quilombola foi realizado após estudo feito por pesquisadores da UFF (Universidade Federal Fluminense) e em 2016, o quilombo foi certificado pela Fundação Palmares. O próximo passo é a titulação do território, que também aguarda por 32 outras comunidades quilombolas no estado do Rio de Janeiro.

Os eventos promovidos pelo Grotão, que um dia foram fundamentais para a organização política da comunidade, hoje empregam cerca de 20 pessoas, com a participação de 45 músicos e ainda contam com apresentações de Sônia Braga, irmã de Renato, que vende peças de artesanato, e sua filha, Mariana, que canta e toca cavaquinho.

Além das rodas de samba, a comunidade realiza eventos como Samba da Comunidade, Samba de Fé, Saudação aos Tambores e Mulheres no Quilombo, promovendo a cultura e preservando a história do Grotão. O compromisso com esses valores também foi registrado no livro “Quilombo do Grotão: práticas de habitar o tempo”, lançado em junho deste ano.

Todo esse esforço é parte do processo de autoconhecimento da comunidade, que teve o apoio da universidade e busca, agora, a titulação de seu território, garantindo assim a permanência e a preservação de suas tradições. O reconhecimento do município de Niterói, por meio do Estatuto Municipal de Promoção e Igualdade Racial, é o próximo passo e trará tranquilidade para todos os moradores do quilombo do Grotão.

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