Especialistas debatem necessidade de reformulação do sistema de ensino para promoção da educação antirracista no Brasil.

Em debate na Câmara dos Deputados, especialistas apontam que a educação brasileira ainda está fundamentalmente voltada para valores europeus, apesar da vigência da lei que obriga as escolas a ensinar história e cultura africanas e indígenas há 20 anos. A afirmação foi sustentada por participantes do debate, que ressaltaram a necessidade de uma reformulação completa dos sistemas de ensino.

Segundo o professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro Amilcar Araújo Pereira, a construção do sistema educacional durante a primeira República utilizava a perspectiva europeia com o objetivo de “embranquecer a população”. Ele também apontou que essa visão continua em vigor nas escolas e universidades brasileiras, sendo dada mais ênfase à história europeia do que os próprios europeus fazem em seus países.

O coordenador-geral de Promoção da Cidadania e Combate ao Racismo do Ministério dos Povos Indígenas, André Baniwa, destacou que a prática oficial em relação aos povos indígenas foi negar a existência dessa população, com o objetivo de que um dia não houvesse mais indígenas no país. Ele ressaltou que uma forma de reparação seria contar a história dos povos indígenas da maneira como ela realmente aconteceu, mostrando coragem por parte do poder público.

A deputada Célia Xakriabá (Psol-MG) também participou do debate e afirmou estar preparando um projeto de lei para proibir que as escolas ensinem que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil. Segundo ela, a educação necessita de uma mudança radical na escola, nas relações, nos comportamentos, o que exige uma nova ética e uma formação específica para os profissionais da educação.

Na opinião da deputada Professora Luciene Cavalcante (Psol-SP), a construção de uma sociedade democrática e menos violenta só será possível com uma educação antirracista, alegando que a escola é o espaço privilegiado para promover essa mudança de mentalidade.

O debate foi realizado na Comissão de Educação e teve como objetivo discutir a necessidade de reformulação do sistema educacional, formação específica dos profissionais da educação e a inclusão de uma abordagem mais abrangente da história, cultura e tradições dos povos africanos e indígenas no currículo escolar.

A reportagem foi realizada por Maria Neves e a edição por Ana Chalub.

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