Milícias no Rio de Janeiro lavam dinheiro usando criptomoedas, indica investigação da Polícia Civil fluminense

A utilização de criptomoedas para lavagem de dinheiro por milícias no Rio de Janeiro tem chamado a atenção das autoridades policiais. De acordo com investigações da Polícia Civil fluminense, os grupos criminosos têm recorrido a esse tipo de transação financeira para mascarar a origem ilegal de seus bens, tanto em relação a extorsões quanto a outras práticas delituosas.

A delegada Ana Paula de Faria, que atuou no combate à lavagem de dinheiro, destacou que as milícias têm buscado diferentes formas de lavar o dinheiro obtido de maneira criminosa. Isso inclui desde a realização de serviços de beleza via aplicativos até a reciclagem de lixo, além da abertura de empresas falsas para tentar dar uma aparência legítima ao dinheiro ilegal. A intenção desse tipo de estratégia, segundo a delegada, é ser visto como empresário pela sociedade, e não como criminoso.

A mudança de estratégia tem impactado setores antes mais utilizados para esse tipo de atividade, como a abertura de lojas e a compra de produtos de luxo, fazendo com que a criptomoeda tenha ganhado destaque. O uso de criptoativos pelas milícias ficou conhecido como cripto-cabo, e foi identificado como uma prática incipiente há cerca de cinco anos.

Como evidência dessa nova tática, investigações relacionadas à morte da vereadora Marielle Franco (Psol) e seu motorista, Anderson Gomes, em 2018, revelaram que os milicianos investiram R$ 2 milhões em uma empresa de bitcoins.

Além das milícias, outras facções criminosas também têm utilizado as criptomoedas para lavar dinheiro. O Primeiro Comando da Capital (PCC), por exemplo, é apontado pelo Ministério Público de São Paulo como tendo movimentado mais de R$ 100 milhões dessa maneira.

Autoridades policiais reconhecem que a utilização de criptomoedas oferece vantagens para criminosos, já que possibilita a realização de transferências internacionais diretas, sem a necessidade de intermediação bancária. A falta de capacitação dos policiais para compreender o sistema financeiro de criptomoedas também tem sido identificada como um desafio para combater essa prática ilegal.

Diante desse cenário, a Abcripto (Associação Brasileira de Criptomoeda) reforça que a criptoeconomia é regulamentada por leis que dispõem de mecanismos, dispositivos e punições para combater a lavagem de dinheiro e outras práticas ilícitas. A associação afirma que o volume transacionado em criptoativos representaria menos de 1% de uso ilícito em relação ao volume global, o que evidencia a segurança desse mercado.

No Rio de Janeiro, a delegacia de lavagem de capitais foi criada em 2019 e já solicitou o bloqueio de R$ 229 milhões pertencentes a milicianos desde 2021. Em alguns casos, suspeitos teriam movimentado valores milionários por meio de criptoativos. Um desses suspeitos, Cléber Oliveira da Silva, que foi preso em junho, é apontado como responsável por lavar dinheiro de Luís Antônio da Silva Braga, conhecido como Zinho, o líder de uma das maiores milícias do Rio.

Combatendo a influência das milícias, a série de reportagens da Folha, intitulada “Milícia no RJ”, evidencia o poder desses grupos criminosos, o qual se sustenta pelo medo e pela violência. A exposição das práticas ilícitas dessas organizações criminosas é essencial para o combate à lavagem de dinheiro e outras formas de crime. As reportagens da Folha mostram como esses grupos extorquem moradores e comerciantes, além de explorações em diversas áreas, como a união com o tráfico de drogas e as expulsões de moradores de suas residências.
A série também revela relatos de mães que perderam filhos e viúvas de criminosos, sublinhando o impacto devastador das atividades dessas milícias na sociedade carioca.

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