Acervo do fotógrafo e ativista negro Januário Garcia será preservado e difundido por instituições brasileiras em projeto de leitura ampla de sua obra.

O renomado fotógrafo e ativista negro Januário Garcia, que se estivesse vivo completaria 80 anos nesta quinta-feira (16), terá seu acervo preservado e divulgado por duas instituições de grande prestígio: o Instituto Moreira Salles (IMS) e o Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ambas as instituições unirão esforços para criar uma organização arquivística única do acervo, com o objetivo de disponibilizar as fotografias e documentos digitalizados em suas bases de dados.

O coordenador de Fotografia do IMS, Sergio Burgi, compartilhou com a Agência Brasil que a intenção é avançar no processamento do arquivo nos próximos dois anos, até o final de 2025 ou início de 2026, para desenvolver um projeto que apresentará uma visão ampla e profunda das diversas frentes em que Januário atuou. O projeto tem como objetivo mostrar o artista para o público através da exposição de suas obras, construídas a partir de perspectivas de pessoas que conviveram e trabalharam com ele.

Nascido em Belo Horizonte e falecido no Rio de Janeiro em 30 de junho de 2021, Januário Garcia foi um profissional formado em comunicação visual pela International Camaramen School, com estágio no Studio Gamma sob orientação do fotógrafo George Racz. Ele deixou um acervo de mais de 100 mil fotos e ao longo de sua trajetória, documentou de forma significativa o ativismo e a cultura negra no Brasil, incluindo marchas e atos do movimento negro, além de personalidades como Lélia González e Abdias do Nascimento.

Além de seu dedicação à fotografia, Garcia também atuou no mercado publicitário, no fotojornalismo e na indústria fonográfica, trabalhando com artistas renomados como Leci Brandão, Tom Jobim, Belchior e Raul Seixas. Ele era conhecido por sua paixão pela imagem, que começou na infância com um exemplar da revista infantil Tico Tico, onde aprendeu a projetar imagens em uma caixa de madeira.

De acordo com Sergio Burgi, Januário Garcia foi uma figura de enorme importância para a fotografia brasileira, não apenas devido à sua significativa trajetória profissional, mas também por sua intensa atividade ligada à militância no movimento negro. Vilma Neres, fotógrafa e especialista em Januário Garcia, ressaltou a importância do mestre como um dos precursores na construção da memória sobre os movimentos negros e as pessoas negras, retratando a diversidade da humanidade negra de forma universal.

O acervo de Januário Garcia será processado e preservado pelo IMS enquanto suas instalações estão em obras de expansão e adequação até 2027, visando promover uma maior integração dos espaços com a própria casa que pertenceu ao banqueiro Walter Moreira Salles, fundador do Instituto Moreira Salles. Durante esse período, o IMS continuará em parceria com outros equipamentos culturais do Rio de Janeiro para a realização de exposições e projetos culturais.

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