Violência no Rio de Janeiro repete roteiro de crises na segurança pública, enquanto autoridades prometem mais apoio federal.

A escalada de violência no Rio de Janeiro desta semana e a resposta das autoridades repetiram o roteiro das sucessivas crises na segurança pública fluminense. O caos instalado na zona oeste da cidade em represália à morte de um miliciano teve como reação a volta do discurso de “inimigo número do estado”, incorporado pelo governador Cláudio Castro (PL), e a promessa de mais apoio do governo federal.

Ao longo das últimas três décadas, a história se repete. O estado enfrenta uma onda de violência motivada pelo crime organizado, e as autoridades prometem o fim dos criminosos e o governo federal oferece reforço. No entanto, especialistas apontam que as políticas públicas de combate ao crime têm sido ineficazes.

Um dos principais problemas é a falta de investimento em inteligência e o foco excessivo em operações pontuais, que consomem recursos, tanto humanos quanto financeiros, e não produzem controle sobre o território e a população. Segundo Jacqueline Muniz, gestora pública e participante do Instituto de Segurança Pública do Rio, as operações geram resultados momentâneos e uma escassez de capacidade repressiva a longo prazo.

Nesta semana, o governo federal prometeu reforçar a atuação da Força Nacional no estado, deslocando centenas de agentes para o Rio de Janeiro. No entanto, não é a primeira vez que isso acontece. Em 2007, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou a presença da tropa no estado após uma onda de ataques.

Além disso, outras medidas adotadas ao longo dos anos, como o projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), também falharam. A falta de planejamento na expansão do projeto, aliada aos excessos cometidos pela polícia e às suspeitas de envolvimento policial com as facções criminosas, levaram ao abandono das UPPs em 2017.

Enquanto isso, as milícias, formadas por agentes de segurança e ex-policiais, têm ganhado cada vez mais poder no Rio de Janeiro. De acordo com um estudo da UFF e do instituto Fogo Cruzado, mais da metade do território da capital está nas mãos das milícias, enquanto o tráfico de drogas controla cerca de 15%. As operações policiais, com alta taxa de letalidade, têm fortalecido esses grupos, ao invés de desarticulá-los.

Diante desse cenário, é urgente repensar as políticas de segurança no estado. As soluções pontuais e a abordagem baseada na repressão e no confronto armado têm se mostrado ineficazes. É preciso investir em inteligência, fortalecer os mecanismos de controle externo e combater a corrupção policial.

Enquanto isso, a população do Rio de Janeiro segue sofrendo com a escalada da violência, e a sensação de insegurança só aumenta. A guerra entre o crime organizado e as autoridades parece longe de chegar a um fim, e enquanto isso, os cidadãos pagam o preço. O desafio agora é encontrar um caminho que leve à paz e à segurança de todos os cariocas.

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