Desigualdade racial dificulta acesso ao tratamento do câncer de mama no SUS, apontam especialistas em seminário do Outubro Rosa

No seminário intitulado “Inovação, educação e cuidado com as mulheres no Outubro Rosa”, realizado nesta quarta-feira (25), especialistas concluíram que a questão racial é um fator determinante no acesso ao tratamento do câncer de mama no Sistema Único de Saúde (SUS). Organizado pela Secretaria da Mulher e pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, o evento faz parte da Campanha Outubro Rosa.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Avon, apenas 24% das mulheres que realizam mamografias são negras, porém, 47% das pacientes que recebem diagnósticos de câncer em estágio avançado são negras. A diretora do instituto, Daniela Grelin, alertou que as mulheres negras têm menos acesso aos exames de rastreamento, o que resulta em diagnósticos em estágios mais avançados e maior letalidade.

Apesar do princípio de acesso universal ao SUS, critérios como faixa de renda e raça acabam segregando as mulheres, tanto na realização de exames preventivos quanto no acompanhamento da evolução da doença, afirmou Damiana Bernardo de Oliveira, integrante da Comissão Intersetorial de Saúde da Mulher do Conselho Nacional de Saúde. Ela ressaltou a existência do racismo institucional na área da saúde, que precisa ser combatido.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 18 mil pessoas morreram de câncer de mama no Brasil em 2021. Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, citou uma pesquisa realizada em favelas de todo o país que demonstrou a falta de acesso ao tratamento oncológico devido à ausência de creches e aos custos de locomoção e alimentação para pacientes. A falta de estrutura adequada afeta especialmente grupos mais vulneráveis que enfrentam dificuldades sociais, econômicas e culturais.

A consultora da saúde da mulher da Organização Panamericana de Saúde (Opas), Gabriela Giacomini, ressaltou que, apesar das políticas de saúde eficientes no diagnóstico, prevenção e rastreamento, muitas mulheres não têm condições de chegar às unidades básicas de saúde (UBS).

Durante o seminário, a deputada Renilce Nicodemos (MDB-PA) mencionou o trabalho do Instituto Ercília Nicodemos, que possui quatro carretas para atender mulheres nas áreas ribeirinhas e rurais do Pará, oferecendo exames ginecológicos, incluindo a mamografia. No entanto, ainda há muito a ser feito, pois dados do Ministério da Saúde mostram que 20% das mulheres com idade entre 58 e 69 anos nunca realizaram mamografia e 55% das mulheres que o fazem são diagnosticadas em estágios avançados da doença.

A secretária nacional de Aquicultura, deputada licenciada Tereza Nelma, que está tratando um câncer em estágio de metástase, concordou que é necessário ampliar os cuidados de saúde da mulher. No entanto, ela ressaltou que não faltam recursos, mas sim fiscalização. Segundo a deputada, em 2019 e 2020, o Ministério da Saúde destinou R$ 150 milhões para a prevenção e diagnóstico do câncer de mama e câncer de útero.

Diante dessas discussões, fica evidente a necessidade de políticas e ações que garantam o acesso igualitário ao diagnóstico e tratamento do câncer de mama, levando em consideração não só critérios de renda, mas também a questão racial. Além disso, é fundamental garantir estrutura e recursos adequados para atender às demandas das mulheres em diferentes contextos, como nas favelas e áreas rurais. A luta contra o câncer depende não apenas de investimentos, mas também de um olhar atento para as desigualdades existentes.

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