Twitter brasileiro abriga comunidades com conteúdos de extrema violência, aponta relatório

O Twitter possui no mínimo 800 usuários brasileiros que pertencem a comunidades online com conteúdos extremamente violentos. Essas comunidades abordam temas como automutilação, cleptomania, transtornos alimentares, assassinatos em série, massacres em escolas e perseguição. Esse é o resultado de um relatório conduzido pelas pesquisadoras Beatriz Lemos, Letícia Oliveira e Tatiana Azevedo, que analisaram esses perfis entre novembro de 2022 e junho deste ano.

De acordo com as pesquisadoras, o relatório reflete as mudanças no comportamento online e o crescimento do compartilhamento de conteúdos sensíveis, que antes eram restritos à deep web. Além disso, destaca a ineficácia do monitoramento e da moderação das redes sociais.

O relatório aponta que os usuários utilizam pseudônimos para garantir seu anonimato e compartilham práticas nocivas, muitas vezes criminosas, como automutilação, por meio de textos, imagens e vídeos. Embora o relatório tenha mapeado 800 usuários, espera-se que haja pelo menos 10 mil usuários nesses grupos online.

Muitos desses conteúdos são publicados sem alertas de gatilho e os usuários interagem apenas entre si. As pesquisadoras conseguiram traçar perfis desses usuários com base em suas conversas e conteúdos publicados. A presença nessas comunidades varia desde pré-adolescentes até jovens adultos.

A pesquisadora Tatiana Azevedo, que trabalha com o monitoramento de grupos extremistas, ressalta que esse comportamento não é exclusivo do Twitter, mas também ocorre em outras redes sociais como Telegram, Discord e Reddit. Ela destaca que os usuários infringem os termos de uso das plataformas e que pouco é feito para combater esses conteúdos.

Os termos do Twitter proíbem a promoção ou incentivo ao suicídio, autoflagelação e mídias excessivamente violentas. No entanto, essas proibições não têm sido efetivas, já que esses conteúdos continuam sendo compartilhados.

Além disso, Azevedo chama atenção para o fato de que esses usuários incentivam uns aos outros a se envolverem ainda mais nas comunidades, como uma forma de piorar seus próprios transtornos. Ela destaca que meninas são frequentemente alvo desses grupos e compartilha um exemplo preocupante de meninos oferecendo dinheiro para que elas se cortem na frente da câmera.

O relatório também aponta que a maioria dos usuários mapeados pertence à comunidade de distúrbios alimentares, e muitos desses usuários também publicam conteúdos sobre automutilação.

É importante destacar que uma comunidade que faz apologia a crimes em escolas e assassinatos em série foi praticamente toda banida do Twitter desde maio deste ano. No entanto, é necessário um esforço conjunto da sociedade para combater esse cenário e proteger os jovens que estão apresentando sinais de adoecimento psíquico. Isso inclui a responsabilidade dos pais em se interessar pelo que os filhos consomem na internet, a melhoria da rede pública de saúde mental no Brasil e o envolvimento de profissionais que trabalhem nessa área para lidar com os desafios online.

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