Da Alemanha ao Brasil: A emocionante jornada de Edith Bochner, sobrevivente do Holocausto, que faleceu aos 101 anos no Rio de Janeiro

A vida de Edith Bochner, conhecida carinhosamente como “estrelinha”, teve inúmeras reviravoltas desde os primeiros momentos em que seu pai a embalava com músicas de ninar em húngaro. Seu apelido, “sterlein”, que vem do iídiche, uma língua antiga dos judeus, derivava de seu nome religioso, Esther.

Nascida em Berlim, em 1921, Edith teve uma infância normal até o quarto ano, quando foi proibida de frequentar escolas públicas, pois a comunidade judaica estava sendo alvo de restrições impostas pelo governo nazista. A partir daí, ela passou a ajudar seus pais em sua alfaiataria em casa.

No fatídico dia 10 de novembro de 1938, a Noite dos Cristais, dois policiais bateram à sua porta no Mitte, bairro central de Berlim, para prender seu pai, Kalman. Esse evento marcou o início do Holocausto, um período violento em que os nazistas prenderam, agrediram e mataram judeus, além de destruírem seus negócios, casas e sinagogas por toda a Alemanha.

Dois anos depois, Edith e sua mãe conseguiram deixar o país graças a uma carta de chamada enviada por seu tio Joel, que havia fugido da ditadura na Hungria e se estabelecido no Rio de Janeiro em 1924. Essa carta garantia que haveria alguém para recebê-las no Brasil. Cartas anteriores haviam sido extraviadas ou vendidas ilegalmente.

Com o apoio de um grupo de ajuda internacional, mãe e filha embarcaram em um trem para Lisboa em novembro de 1940. Apesar da cidade estar sendo bombardeada todas as noites pela Inglaterra, elas conseguiram chegar em segurança e embarcar no último navio de passageiros permitido a cruzar o Atlântico durante a Segunda Guerra Mundial. Elas podiam levar apenas uma mala e dez marcos alemães cada uma.

No Rio de Janeiro, Edith se casou, mudou seu sobrenome para Frisch e teve dois filhos. Ela trabalhou como representante comercial, teve uma separação aos 50 anos e casou-se novamente, agora com o sobrenome Yanitchkis. Ela foi uma mulher forte e determinada, que somou cinco netos, quatro bisnetos e muitos agregados ao longo de sua vida.

Uma amante de viagens, Edith retornou à Alemanha em pelo menos três ocasiões, mesmo após tudo o que havia acontecido. Já com mais de 80 anos, ela decidiu se mudar para Teresópolis, onde cursou uma faculdade da terceira idade e escreveu um livro. Ela era uma voraz leitora e mantinha-se atualizada sobre os avanços da tecnologia e da humanidade através do jornal diário até seus últimos dias.

Edith faleceu aos 101 anos de idade no último sábado (9) no Rio de Janeiro. Mesmo com sua idade avançada, ela era uma pessoa conectada ao mundo, usando e-mail e ligações em vídeo para se comunicar com amigos e familiares. Ela também recorria ao Google para buscar respostas para as raras dúvidas históricas que surgiam em conversas com seus netos.

A história de Edith Bochner é um exemplo de resiliência e força diante das adversidades. Ela enfrentou os horrores do Holocausto, recomeçou sua vida em um novo país e viveu uma vida plena e inspiradora até o fim. Sua memória permanecerá viva naqueles que a amaram e admiraram.

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