O estudo coordenado por Gianluca Alimonti, do Instituto Nacional de Física Nuclear em Milão, é um exemplo típico da circulação de informações falsas sobre a crise climática. Alimonti, especializado em física de partículas, não possui experiência direta na área de climatologia, o que é comum em estudos que contestam o consenso científico sobre o tema.
Além disso, a revista European Physical Journal Plus é considerada de baixo impacto e não costuma publicar estudos sobre o clima, o que revela a falta de rigor no sistema de revisão desses periódicos. O estudo italiano também foi praticamente ignorado quando foi publicado originalmente, mas ganhou destaque quando foi exposto por veículos de imprensa australianos em setembro de 2022.
Contudo, a pesquisa de Alimonti e seus colegas não apresenta coleta própria de dados climáticos, apenas analisa exemplos da literatura científica sobre eventos climáticos extremos. Os pesquisadores concluíram que não havia uma clara tendência de aumento desses eventos, indicando que a crise climática ainda não é evidente. Porém, especialistas climatologistas de renomadas instituições refutaram essas conclusões, apontando a prática de “cherry-picking” na seleção de dados utilizados pelo estudo negacionista.
Diante disso, o grupo Springer Nature iniciou uma investigação aprofundada sobre o caso e decidiu retratar o artigo, marcando todas as páginas com a expressão “artigo retratado”. A editora considerou que um adendo no trabalho não seria suficiente para corrigir suas falhas. Os autores da pesquisa não comentaram o caso.
Esse episódio evidencia o mecanismo de desinformação em torno das mudanças climáticas, no qual estudos sem embasamento científico são publicados em periódicos de baixa credibilidade e ganham destaque repentino na mídia. A retratação do estudo italiano reforça a importância de seguir o consenso dos especialistas e basear-se em pesquisas sólidas e confiáveis para compreender corretamente a emergência climática que estamos enfrentando.
