Comando Vermelho estabelece hegemonia em prisão peruana, mostrando sua expansão na América do Sul

A capital de Ucayali, na Amazônia peruana, está testemunhando a expansão do Comando Vermelho, uma das organizações criminosas mais perigosas do Brasil. A prisão em Pucallpa, que atualmente está superlotada com 2.531 detentos – mais de três vezes sua capacidade oficial de 800 – agora é dominada pela facção criminosa.

Quatro jovens prisioneiros estão no pátio principal da prisão montando um teto improvisado feito de sacos pretos. Sob a lona, eles colocam uma mesa e duas cadeiras de plástico. A bandeira do Brasil está pintada no chão polido, mostrando a supremacia do Comando Vermelho.

Historicamente, a facção estava envolvida principalmente no tráfico de drogas, mas recentemente expandiu suas atividades para controlar rotas estratégicas de cocaína, especialmente nas fronteiras do Peru e da Colômbia. Juntamente com outras duas facções criminosas brasileiras, Família do Norte e PCC, o Comando Vermelho enfrentou uma disputa sangrenta em 2020, resultando no enfraquecimento de todas as partes envolvidas. Esse cenário permitiu o surgimento de um novo grupo criminoso chamado Os Crias, que opera como um consórcio dissidente das três facções.

Aproveitando a redução de seu domínio, o Comando Vermelho expandiu sua presença para Ucayali, uma região peruana que faz fronteira com o Brasil e onde o cultivo ilícito de cocaína está se expandindo. Dados recentes mostram um aumento significativo nas plantações de coca na região, passando de 3.632 hectares em 2020 para 14.531 hectares em 2022, de acordo com a agência estatal Devida.

Em comunidades remotas na região de Ucayali, dominadas pelo Comando Vermelho, como distrito de Callería e Puerto Breu, jovens se envolvem no transporte de drogas para o Brasil. Esses “mochileiros” levam pacotes de drogas através de estradas precárias, rios turbulentos e florestas densas em troca de pagamento.

O Comando Vermelho envia principalmente drogas por meio do rio Ucayali e da Amazônia para cidades como Tabatinga, no Brasil, e Leticia, na Colômbia, na tríplice fronteira.

Essa expansão do Comando Vermelho na América do Sul causa preocupação às autoridades. Os esforços para combater o tráfico de drogas na região incluem a destruição de laboratórios e plantações de coca. No entanto, o coronel Luis Wong Briceño, chefe do gabinete de Ucayali da Unidade de Antidrogas da Polícia Nacional, afirma que o grupo continua a operar.

Para erradicar a atividade criminosa na região, especialistas sugerem adotar uma estratégia que inclua a erradicação das plantações de coca, sanções por atos ilegais e esquemas alternativos de desenvolvimento para fornecer às comunidades uma renda de fontes legais, como cacau ou café.

A expansão do Comando Vermelho na prisão em Pucallpa e em Ucayali destaca a capacidade da facção criminosa de se estabelecer e ganhar poder em diferentes regiões da América do Sul.

O Amazon Underworld é uma investigação conjunta da InfoAmazonia (Brasil), Armando.Info (Venezuela) e La Liga Contra el Silencio (Colômbia). O trabalho é realizado com o apoio da Rainforest Investigations Network do Pulitzer Center e financiado pela Open Society Foundations, pelo Foreign, Commonwealth & Development Office do Reino Unido e pela International Union for Conservation of Nature (IUCN NL)