De acordo com Kelly Ricca, diretora de ensino do Instituto de Treinamento em Cadáveres, os corpos realmente são importados para a realização dos cursos. Em uma entrevista à imprensa, Ricca não entrou em detalhes sobre os valores ou a origem dos corpos, alegando que isso poderia comprometer a operação. No entanto, ela revelou que muitas compras são realizadas em dólar.
Instituições renomadas, como o Centro de Treinamento em Cadáveres, Nepuga, Ramaga e Instituto de Treinamento em Cadáveres, oferecem cursos de estética que incluem preenchimentos com ácido hialurônico e aplicação de outros produtos injetáveis em corpos frescos.
No Brasil, a compra e venda de corpos é proibida, mas existe uma regulamentação para o uso de cadáveres em estudos, conforme estabelecido em uma norma de 1992. Henderson Furst, presidente da Comissão de Bioética da OAB, aponta que essa regulamentação apresenta lacunas, não fornecendo orientações claras sobre a doação voluntária de corpos para pesquisa e ensino, nem sobre a importação de cadáveres.
O Instituto de Treinamento em Cadáveres, uma das instituições que utiliza os corpos frescos, afirma ser praticamente dependente do mercado externo. Segundo o dentista Mohamad Abou Wadi, responsável pelo instituto, as peças chegam de fora do Brasil sem uma origem especificada.
A reportagem teve acesso a informações de um médico que acompanhou a compra de cabeças humanas pelo instituto, revelando que cada cabeça pode custar até R$ 10 mil e é adquirida dos Estados Unidos, através de sistemas de doação para a ciência. Diversas empresas, como Novusarge e Science Care, oferecem esse serviço nos Estados Unidos e na Europa.
Apesar das tentativas de obter mais informações sobre as transações com órgãos competentes no Brasil, como a Anvisa, o Ministério da Saúde e a Polícia Federal, as respostas foram escassas. Profissionais da área destacam que os cadáveres frescos preservam melhor as características dos tecidos humanos em comparação com a conservação química.
Em meio a essa polêmica, Henderson Furst ressalta que, apesar da proibição da comercialização de corpos humanos no Brasil, a importação de cadáveres para fins de ensino continua sendo uma prática legal devido à falta de regulamentação específica. A brecha na lei permite a realização desses cursos com corpos frescos, causando uma discussão ética e moral no meio acadêmico e nas redes sociais.