O estilista do juridiquês: quando o bacharel em direito se perde na pompa e no exotismo linguístico

O Bacharel em Direito e o Juridiquês: Entre a Exclusão e a Humanização

Com o aumento da procura por cursos superiores de Direito, é comum encontrar nas faculdades uma série de bacharéis formados nessa área. No entanto, é também comum encontrar entre eles um modo peculiar de expressão: o juridiquês. Esse estilo linguístico complexo, repleto de estrangeirismos, termos técnicos e formas de tratamento excêntricas, é alvo de críticas e reflexões por parte de diversos escritores e analistas.

O bacharel em direito aprende, ao longo de sua formação, a transformar-se em um “medalhão completo”, como diria Machado de Assis. O estilista do juridiquês costuma ser um inseguro linguístico, que por medo de errar, enfeita sua prosa com termos rebuscados e entulhos jurídicos. A iniciação nesse estilo se dá por meio do garimpo de palavras raras e a busca por sinônimos e estrangeirismos que conferem um ar cosmopolita e erudito.

Além disso, o juridiquês não é apenas um jeito ridículo de se expressar, mas também opera um efeito político e moral. A exibição de credenciais sabichonas impõe hierarquia e desigualdade, fazendo com que o detentor de prerrogativas se coloque em uma posição superior em relação aos demais.

Para combater o pacto magistocrático do juridiquês, Luís Roberto Barroso, autor da mais límpida e humanizadora frase judicial de todos os tempos, anunciou o Pacto Nacional do Judiciário pela Linguagem Simples. Essa iniciativa busca simplificar a linguagem jurídica e tornar os votos e decisões mais acessíveis à sociedade em geral.

Essas reflexões sobre o juridiquês são fundamentais e poderão ter efetividade se monitoradas pelo jornalismo e pela sociedade em geral. A linguagem simples e acessível é uma forma de humanização e aproximação do mundo jurídico, permitindo que a justiça seja compreensível e inclusiva para todos.

Em última análise, o juridiquês se mostra como um desafio para a crônica. Enquanto a crônica atua na sua despretensão e humaniza, o juridiquês busca o entendimento e o ofuscamento, optando pelo obscuro e esotérico. Desse modo, o estilista do juridiquês se coloca em contraposição à proposta de humanização da linguagem jurídica e, por consequência, do sistema judicial como um todo.

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