Muhammad Ali: a visita surpresa ao clube de aristocracia negra em São Paulo

No dia 16 de setembro de 1971, às 8h15, no aeroporto de Congonhas, um acontecimento marcante para a comunidade negra em São Paulo: o desembarque do lendário pugilista Cassius Clay, que adotou o nome Muhammad Ali após converter-se ao islamismo. O campeão dos pesos pesados estava em terras brasileiras para cumprir uma agenda repleta de compromissos, incluindo uma luta “no contest” no ginásio do Ibirapuera e uma visita a uma mesquita na região central da cidade. Porém, o evento mais significativo para Ali foi a visita à sede do Aristocrata, o maior clube frequentado por negros em São Paulo na época, que contava com 4.000 sócios.

O encontro de Ali com diretores e sócios do Aristocrata foi um momento histórico, já que o ex-campeão mundial dos pesos pesados sempre utilizou sua reputação esportiva para disseminar seus ideais de defesa dos direitos dos negros. Ali ficou impressionado com a importância da instituição e sua capacidade de competir em relevância com os clubes da elite branca paulistana. Durante os anos 1960 e 1970, as festas e bailes de debutantes eram referências de elegância e marcavam um posicionamento contra o racismo estrutural inerente à sociedade da época.

Para Afonso Gomes, frequentador assíduo do Aristocrata nas décadas de 1960 e 1970, a importância do clube residia na possibilidade de os negros se enxergarem com igualdade e dignidade em um espaço de alta classe. No entanto, com o passar dos anos, o clube enfrentou dificuldades financeiras, levando ao fechamento de suas sedes. Somente em 2011, com a indenização pela desapropriação de um terreno, foi possível a reconstrução e reabertura de uma nova sede, localizada no bairro Planalto Paulista, com uma proposta mais modesta.

Martha Braga, a atual presidente do Aristocrata, expressa o desejo de que os jovens se interessem novamente pela proposta do clube como um bastião contra o racismo estrutural em São Paulo. O objetivo é manter o clube como um símbolo de resistência e pertencimento da comunidade negra na cidade, buscando dar continuidade à causa que sempre motivou a existência do Aristocrata.

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