Escândalo das Americanas abala mercado de crédito privado no Brasil e influencia emissões de debêntures do setor de saneamento.

A divulgação do rombo bilionário da Americanas, em janeiro de 2023, abalou o mercado de crédito privado brasileiro. Um ano após o evento, esse mercado ainda não se recuperou plenamente, apesar da melhora gradativa desde então. A aversão ao risco persiste, mas fatores como um cenário macroeconômico mais positivo e emissões de debêntures do setor de saneamento têm contribuído para essa recuperação.

De acordo com Marcelo Mello, presidente da SulAmérica Vida, Previdência e Investimentos, o mercado de crédito privado ainda não voltou ao patamar anterior ao escândalo da Americanas, mas há possibilidade da taxa de risco cair para níveis pré-Americanas. O prêmio de risco pago pelos títulos é um reflexo da desconfiança do mercado, que considerou a possibilidade de contaminação sistêmica após o rombo contábil da varejista e a crise na concessionária de energia, Light.

O escândalo da Americanas e a crise na empresa aumentaram a percepção de risco do mercado, levando investidores a cobrar mais para financiar as companhias mais arriscadas. Como resultado, as debêntures perderam valor de mercado, com detentores dos papéis se desfazendo deles a qualquer preço. A taxa remuneratória das debêntures reflete esse cenário, ficando inversamente proporcional à desvalorização dos ativos.

Antes do rombo da Americanas, o spread das debêntures brasileiras era de 1,85%. Na semana seguinte ao escândalo, esse spread chegou a 837,67%, segundo dados da gestora JGP. A partir do segundo semestre de 2023, essa diferença de juros passou a baixar e, atualmente, está em 2,16%. No entanto, empresas foram afetadas, e a emissão de debêntures no ano passado caiu R$ 101 bilhões em termos reais em relação a 2022.

Apesar do impacto negativo, a oferta de debêntures voltou no segundo semestre de 2023, com grandes nomes da infraestrutura retomando as emissões, principalmente devido aos leilões de concessão da Cedae. A perspectiva de juros mais baixos no Brasil e nos Estados Unidos também contribuiu para a recuperação do mercado de crédito privado.

Mesmo com a recuperação gradativa, investidores ainda podem aproveitar as oportunidades do mercado antes que o spread caia. Especialistas recomendam a priorização de boas geradoras de caixa com baixo endividamento, além de debêntures de infraestrutura, especialmente em empresas de energia, rodovias, saneamento, saúde, construção civil, transporte e logística. A tributação de fundos exclusivos pode estimular o setor de crédito privado, incrementando a demanda por debêntures e levando a uma queda na taxa de remuneração. Com isso, a tendência é de uma evolução ainda maior do mercado de crédito privado no decorrer de 2024.

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