Esses cenários não apenas afetam a segurança individual e coletiva globalmente, mas também prejudicam a capacidade de organizações multilaterais, como a ONU e a Organização para a Segurança e Cooperação Europeia (OSCE), que há décadas deixaram de ser as guardiãs da “paz e ordem mundial”.
A transição energética, processo no qual o sistema energético baseado em combustíveis fósseis é gradualmente substituído por fontes renováveis, foi impactada pela intensificação da disputa pela hegemonia global entre China e Estados Unidos, bem como pela guerra na Ucrânia e pelas sanções ocidentais contra Rússia, Venezuela e Cuba. Como resultado, projetos e programas voltados ao desenvolvimento de energias alternativas estão praticamente paralisados.
Nesse contexto, a demanda e o consumo de carvão, o combustível mais poluente, têm atingido níveis máximos históricos. A Agência Internacional de Energia (AIE) revelou em um estudo recente que houve um crescimento superior a 7% no uso global de carvão, totalizando mais de 8 bilhões de toneladas consumidas – mais de uma tonelada para cada pessoa no mundo.
Consequentemente, a construção de infraestruturas relacionadas aos combustíveis fósseis continua avançando, enquanto a vontade política de combater o aquecimento global desaparece. As estimativas da comunidade científica indicam que, se essa tendência persistir, a temperatura média do planeta pode aumentar em 2,5ºC, causando transformações drásticas como desertificação de florestas, inundação de cidades costeiras e graves episódios de seca em todo o mundo, resultando na morte de milhões de pessoas.
O aspecto mais preocupante da transição energética é o paradoxo de tecnologicamente crescer utilizando “energia limpa”, enquanto continua a poluir e contribuir para o aquecimento global. Um exemplo disso é o avanço da nova infraestrutura digital, que demanda processos extrativos altamente poluentes, além de gerar cada vez mais resíduos devido à obsolescência rápida dos equipamentos eletrônicos.
De acordo com o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, esse cenário resultará em aumento das desigualdades e concentração ainda maior do poder econômico e político globalmente.
É importante ressaltar que esses são apenas alguns dos desafios enfrentados atualmente. No próximo artigo, abordaremos outras questões que também merecem atenção.