Brasileiros retornam ao Estádio Nacional do Chile 50 anos depois do golpe de Pinochet em busca de fechamento do passado

No dia 11 de setembro de 2023, o Estádio Nacional do Chile foi palco de um encontro emocionante entre brasileiros e brasileiras que viveram o fim do governo Salvador Allende e o início da ditadura de Augusto Pinochet, há exatos 50 anos. A Caravana Viva Chile, organizada por Opera Mundi, acompanhou esses ex-exilados do Brasil em sua visita ao país andino para revisitar um dos cenários que marcou suas vidas para sempre.

O Estádio Nacional, que durante a ditadura se tornou um campo de concentração e prisão política, recebeu milhares de presos, incluindo muitos jovens brasileiros que foram as primeiras vítimas da ditadura que se iniciava naquele fatídico dia. Agora, 50 anos depois, um grupo de dezenas de brasileiros e brasileiras retornou ao estádio para relembrar aqueles eventos marcantes.

A visita guiada ao estádio foi um dos momentos mais emocionantes da Caravana Viva Chile. Os participantes puderam caminhar pelas galerias do estádio, pelas cadeiras da arquibancada e pela pista de atletismo que levava à liberdade ou à tortura e execução. O concreto frio e envelhecido do estádio remetia a um momento que precisava ser revivido, um momento que marcou a vida daqueles que vivenciaram o horror da ditadura pinochetista.

Uma das organizadoras da Caravana, Angelina Teixeira, passou cerca de um mês no Estádio Nacional como prisioneira política. Para ela, o retorno ao local só foi possível de forma coletiva, acompanhada por um grupo de amigos que também estiveram lá. A visita começou em uma pequena estrutura inaugurada há poucos anos, que presta homenagem especial às mulheres que estiveram no campo de concentração. Em seguida, o grupo foi levado ao estádio, onde reencontraram o local onde viveram dias de dor e angústia.

Durante a visita, os ex-exilados compartilharam suas experiências e recordaram a presença de militares brasileiros no estádio, que ajudaram e até ensinaram os chilenos a torturar. Enquanto alguns brasileiros tiveram sorte e sobreviveram graças a coincidências, a maioria foi submetida a intensas torturas, já que alguns militares chilenos conheciam esses brasileiros e colaboravam com os militares brasileiros no estádio.

Entre os relatos emocionantes, a jornalista Solange Bastos lembrou que a alimentação oferecida às mulheres prisioneiras era um pouco melhor que a dos homens. Elas recebiam frutas e um pão em melhor estado, o que era considerado uma grande melhoria em relação à situação dos homens, que chegaram a passar fome.

O regresso ao Estádio Nacional do Chile foi um momento de reencontro com o passado, de relembrar os horrores da ditadura e de homenagear aqueles que não tiveram a sorte de sobreviver. A Caravana Viva Chile proporcionou aos brasileiros e brasileiras uma oportunidade única de confrontar seus traumas e compartilhar suas histórias, fortalecendo o vínculo entre eles e mantendo viva a memória daqueles tempos sombrios.

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