Astronomia e arte na decolonização do conhecimento: as perspectivas do astrofísico Alan Alves Brito

A astronomia não é apenas uma ciência que estuda os fenômenos celestes, ela também está intrinsecamente ligada à arte e à imaginação. O astrofísico Alan Alves Brito, finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2020 com o livro “Astrofísica para a educação básica: a origem dos elementos químicos no universo”, argumenta que a astronomia demanda dos cientistas uma boa dose de imaginação para compreender objetos distantes e responder a perguntas intrigantes, como o funcionamento de um buraco negro ou o processo de explosão das estrelas. O diálogo entre a astronomia e as artes está no cerne do trabalho de Brito, que acredita que as linguagens artísticas são ferramentas essenciais para a compreensão de fenômenos astronômicos.

Brito enfatiza a importância de reconhecer as diversas formas de percepção das culturas indígenas e africanas, que oferecem uma visão diferente da astronomia, possibilitando uma compreensão mais ampla e profunda do cosmos. Ele destaca a importância de explorar outras percepções para além da visão dominante da astronomia ocidental, que geralmente é visual e centrada em imagens de telescópios espaciais renomados, como o Hubble e o James Webb. A experiência olfativa, sonora e artística dessas culturas pode ser fundamental na interpretação do universo e na busca por respostas para questões existenciais.

O pesquisador faz referência a exemplos específicos, como a representação do céu e da terra pelo povo Dogon, da África, e a representação da Via Láctea pelos povos Tabwa, do Congo. No Brasil, o povo Tupi-Guarani utiliza batidas e cânticos em seus rituais para explicar o mundo, evidenciando a riqueza das línguas e expressões artísticas dessas culturas e sua relevância para a compreensão da origem do universo. A partir de sua especialização em literatura brasileira, Brito explora essas diversas perspectivas sobre o cosmos, promovendo o que ele chama de “cosmologia decolonial”.

Segundo o astrofísico, as cosmologias decoloniais nos desafiam a pensar para além da matriz europeia, incorporando as visões de mundo africana e indígena, e levando em consideração a diversidade de modelos científicos e cosmopolíticas. Ele questiona a representação visual do espaço-tempo ensinada nas instituições acadêmicas e ressalta a importância de uma reflexão crítica sobre a exclusão de pessoas na história da ciência, defendendo a necessidade de torná-la mais inclusiva e diversa.

Brito destaca a importância das humanidades e da interdisciplinaridade na formação de uma nova astrofísica, que incorpora conceitos e perspectivas vindos das ciências sociais e humanas. Ele ressalta que as conexões entre diferentes formas de conhecimento não surgem espontaneamente, mas são fruto do pensamento crítico e do contato com outras culturas. A entrevista com Alan Alves Brito encerra destacando a participação do Museu SESI Lab de Brasília no evento Night Lab, que busca aproximar o público adulto de temas científicos.

Portanto, a visão de Alan Alves Brito nos leva a refletir sobre a necessidade de uma nova abordagem na astronomia, que integre diferentes perspectivas e conhecimentos para uma compreensão mais rica e plural do cosmos.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo