A Cannabis, da Bíblia aos navios de Cabral, faz parte da trajetória histórica da humanidade, porém é alvo de perseguições atualmente.

O cânhamo, planta pertencente à espécie “Cannabis sativa”, tem uma história longa e fascinante que remonta a milênios atrás. Escavações arqueológicas recentes no Japão confirmam que, há pelo menos 10 mil anos, os seres humanos já coletavam suas sementes para uso. Além disso, foram encontrados resquícios pré-históricos na Índia, Tailândia e Malásia, mostrando que o cânhamo estava presente em várias culturas antigas.

A utilização do cânhamo na China remonta a pelo menos 4000 a.C, quando os chineses já fabricavam têxteis com suas fibras. Além disso, registros mostram que o cânhamo era utilizado na medicina chinesa há milênios. O livro Běn Cǎo Jīng, escrito no primeiro milênio antes da era cristã, descreve a ação do cânhamo, que não só permitiria comunicar-se com os espíritos, como também relaxa o corpo. No entanto, alerta-se que doses excessivas poderiam levar a alucinações.

Na cultura dos citas, que habitavam a região que hoje corresponde à Ucrânia, o cânhamo também desempenhava um papel importante. O historiógrafo Heródoto descreveu que esses povos se reuniam em ritos fúnebres, lançavam sementes de cânhamo sobre pedras em brasa e se purificavam em um banho de vapor. Essa prática era tão apreciada pelos citas que eles se alegravam enquanto usavam as saunas. A palavra latina “cannabis”, aliás, tem origem na língua cita.

No judaísmo e no cristianismo, o cânhamo também tem uma história relevante. No Velho Testamento, Deus instrui Moisés a usar o “kaneh bosm” para fabricar um óleo de santa unção. Segundo a teoria da antropóloga Sula Benet, esse termo foi erroneamente traduzido para o grego como “cálamo aromático”, mas na verdade se referiria ao cânhamo, à maconha. Essa teoria foi reforçada recentemente por pesquisadores que encontraram indícios da presença de cânhamo em um altar em Israel. O cânhamo encontrado continha a substância tetra-hidrocanabinol (THC), que, quando aquecida, tem efeito entorpecente.

Ao longo da história, o cânhamo foi usado para diversos fins, desde a fabricação de têxteis e papel até a produção de combustíveis. No entanto, com a ascensão dos combustíveis fósseis, a indústria do cânhamo entrou em declínio. Um dos promotores dessa mudança foi Harry Anslinger, chefe do Departamento Federal de Narcóticos dos Estados Unidos, que fez uma campanha para demonizar a cannabis.

Atualmente, a guerra contra a cannabis fracassou, já que cada vez mais países estão legalizando seu consumo. Além disso, numerosas empresas estão investindo na cannabis, seja para a maconha medicinal ou recreativa. É importante ressaltar que não há registros de overdose de maconha e que não existe evidência científica de que a maconha seja uma “porta de entrada” para outras drogas.

Diante disso, é válido considerar o potencial do cânhamo como um recurso sustentável. Enquanto os combustíveis fósseis são responsáveis pelo aquecimento global, a redescoberta e desenvolvimento de tecnologias pré-petróleo podem ajudar a construir uma economia mais sustentável. Portanto, é fundamental repensar e atualizar nossos conceitos em relação ao cânhamo e à cannabis.

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