Combinei com Tereza de passarmos alguns dias na Cidade Maravilhosa, aproveitando a hospedagem no apartamento de um amigo do irmão dela. Eu fui antes, sozinha, enquanto Tereza chegaria dois dias depois. Ao sair de São Paulo, senti uma sensação de liberdade incrível. Um amigo carioca, alcoólatra, me alertou sobre a disponibilidade do grupo de apoio caso eu precisasse. Na época, achei engraçado e não dei muita importância. Afinal, depois de dois anos sem álcool, eu pensava que não havia mais perigo.
Cheguei ao apartamento de Antônio, localizado na Glória, com um sentimento de felicidade enorme. A vista para o Aterro do Flamengo era deslumbrante, e o céu azul e ensolarado me faziam sentir a pessoa mais feliz do mundo. No entanto, quando me deparei com o bar dentro do apartamento, a sensação de felicidade se transformou em algo estranho. De repente, senti o calor das bebidas alcoólicas que já haviam passado pela minha garganta. As garrafas me encaravam, convidativas, enquanto eu lutava contra o pânico. Apesar disso, entrei no apartamento e fingi naturalidade, mas a presença do álcool continuava assombrando meus pensamentos.
Quando abri a geladeira e vi que estava cheia de cerveja, fiquei irritada comigo mesma. Antônio havia preparado tudo para nós duas, com flores e roupas de banho limpas, mas eu só conseguia ficar frustrada com as garrafas ao invés de apreciar sua generosidade. Depois de um tempo, percebi o quão egoísta esses pensamentos eram. Como as pessoas ousavam beber na minha frente? Demorei para superar essa mentalidade, mas ainda de vez em quando aqueles pensamentos ressurgem.
Apesar do medo de recair novamente no alcoolismo, dessa vez eu tinha uma diferença fundamental: as pessoas ao meu redor, o apoio do grupo de AA e a segurança de não estar sozinha. Oscar, um carioca, havia me falado sobre as reuniões de AA e eu decidi procurar uma. Fui recebida com sorrisos e abraços, e senti como se tivesse cruzado a linha de chegada de uma maratona. Finalmente, eu poderia descansar e experimentar a paz.
A luta contra o alcoolismo é constante, e estar de férias não muda isso. Eu não poderia simplesmente viajar para o Rio e ignorar minha condição. A partir desse momento, decidi não desistir da minha recuperação. Durante os dois dias em que Tereza ainda não havia chegado, fui a quatro reuniões de AA. Alguns podem considerar um exagero, mas para mim isso significava oito horas de sala intercaladas com conversas e encontros valiosos. Enquanto estive sóbria, minha produtividade foi muito maior do que se estivesse consumindo álcool em um ambiente de 40 graus.
No final, aprendi que minha doença exige cuidado constante. O álcool está em toda parte, e cabe a mim desviar das armadilhas. Minha recuperação ainda está em andamento, mas estar no Rio de Janeiro não foi uma desculpa para recair. Com a ajuda do grupo e a determinação de superar os obstáculos, eu consegui desfrutar minhas férias com segurança.