Somente em 1953, São Paulo realizou sua primeira eleição para prefeito, seguida por Recife em 1955. Foi somente em 1985, após o fim do regime militar, que 201 municípios brasileiros passaram a eleger democraticamente seus prefeitos. Esse processo de transição refletiu um paradoxo presente nas cidades brasileiras ao longo do século 20: prefeitos nomeados e câmaras de vereadores eleitos.
Personagens como Lima Barreto e seu alter ego Policarpo Quaresma ironizavam a política municipal da época, destacando a falta de conhecimento dos nomeados sobre a realidade local. As lutas políticas, tricas eleitorais e nomeações familiares eram alvo de críticas contundentes. A manipulação do eleitorado, especialmente o analfabeto, era um tema recorrente, com o controle sobre o alistamento sendo crucial para as elites políticas.
A introdução da Justiça Eleitoral em 1932 tornou o alistamento obrigatório, mas não o voto, o que fortaleceu a manipulação do eleitorado até a década de 1970. Somente em 1955, com a introdução da cédula oficial e, posteriormente, em 2000, com o voto eletrônico, a democracia eleitoral no Brasil se fortaleceu.
Lima Barreto, em suas obras, já apontava para a relação entre crime e eleições, algo que décadas depois se tornaria uma realidade assustadora com a influência do crime organizado nas eleições nacionais. A batalha pelo voto e pelo controle sobre o processo eleitoral é um tema recorrente na nossa história política, refletindo as transformações e desafios enfrentados ao longo dos anos.