Eventos como o sarau realizado em uma biblioteca pública na Cidade Tiradentes reuniram pais e mães de santo, jovens e velhos em uma proposta de manifestação de cultura e elaboração de conhecimentos. Além das palestras, havia intervenções poéticas, musicais e de dança, onde os participantes tinham a liberdade de expressar e expor suas vivências. As roupas utilizadas pelos participantes variavam entre vestimentas religiosas e casuais, mostrando a diversidade e a conexão entre as pessoas.
No entanto, recentemente, os terreiros e religiões de matriz africana foram alvo de ataques e intolerância religiosa. Um caso que ganhou destaque nas mídias foi a conversa vazada envolvendo a atriz Larissa Manoela e sua mãe, onde ela zomba da religião da família do companheiro da filha, e o assassinato da Mãe Bernadete, líder quilombola e mãe de santos, encontrada morta em seu quilombo em Salvador. Esses casos refletem o aumento considerável de ataques às religiões de matrizes africanas nos últimos dois anos, revelando o racismo como pano de fundo dessas agressões.
Diante desse cenário, os terreiros têm buscado utilizar a cultura como uma ferramenta de transformação social. O Ilê Ègbè Òsun Òmindelè, por exemplo, tem oferecido uma série de atividades para a comunidade além dos rituais religiosos. O documentário “Um dia no Ilê” mostra um dia de festa de Erê no terreiro, destacando a importância desses seres que fazem a intermediação entre os orixás e os seres humanos.
Além disso, o terreiro tem promovido cursos e oficinas gratuitas, como samba de terreiro, intervenções artísticas e saraus. Um exemplo é a batalha de rap “No flow de Ogum”, onde os rappers competem utilizando a temática do Orixá da batalha. Também são oferecidos cursos de DJs, audiovisual e formações culturais, com o objetivo de fundar o primeiro grupo de afoxé na Cidade Tiradentes.
Ao abrir suas portas para a comunidade, os terreiros proporcionam um ambiente seguro e acolhedor, onde as pessoas se sentem pertencentes e respeitadas. Através da arte e da cultura afro-brasileira, é possível curar feridas históricas e fortalecer a resistência das periferias. Os terreiros têm se tornado espaços de transformação e empoderamento, promovendo a valorização da cultura negra e a luta contra o racismo e a intolerância religiosa.
Nesse contexto, é importante destacar a importância do respeito e da valorização das religiões de matriz africana. Ao invés de demonizá-las, é essencial compreender e enaltecer sua contribuição para a sociedade, seja através da cultura, seja através da promoção da igualdade e do combate ao preconceito. Os terreiros são espaços de resistência e representam a história e a identidade de um povo que busca o seu lugar de direito na sociedade.