Takeda prioriza vacina da dengue para o SUS e preocupa clínicas médicas particulares

A decisão do fabricante da vacina Qdenga, usada contra a dengue, o laboratório japonês Takeda, de priorizar o abastecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) tem gerado preocupações nas clínicas médicas particulares. A Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC) manifestou preocupação nesta terça-feira (6) diante da possível falta da vacina em sua rede, especialmente em relação às faixas etárias não cobertas pelo setor público.

As pessoas que procuram estabelecimentos privados, que incluem clínicas, laboratórios e drogarias, têm enfrentado dificuldades para conseguir o imunizante, que requer a aplicação de duas doses com intervalo de 90 dias.

Na segunda-feira (5), a Takeda esclareceu que, com o atual cenário da inclusão da vacina Qdenga no SUS por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e os registros crescentes de dengue no Brasil, “a empresa está concentrada em atender de forma prioritária ao Ministério da Saúde”.

Com isso, a multinacional não fará novos contratos com estados e municípios, e o fornecimento da vacina no mercado privado brasileiro será limitado para suprir e priorizar o quantitativo necessário para que as pessoas que tomaram a primeira dose do imunizante na rede privada completem seu esquema vacinal.

Segundo a Takeda, a empresa tem garantida a entrega de 6,6 milhões de doses para o ano de 2024 e o provisionamento de mais 9 milhões de doses para 2025, o que representa a capacidade de fornecer imunização para 7,8 milhões de pessoas (duas doses para cada). A empresa acrescenta que busca todas as soluções possíveis para aumentar o número de doses disponíveis no país.

A ABCVAC informou que a procura pela Qdenga tem tido uma escalada, mais notadamente desde outubro de 2023. Desde então, a procura cresceu mais 237%, fechando janeiro de 2024 com 4.923 doses aplicadas. No período acumulado de julho de 2023 a janeiro de 2024, foram administradas 13.290 doses da Qdenga.

A Associação destacou a importância do setor privado complementando o setor público e ressaltou a importância de soluções rápidas para garantir o abastecimento adequado. Fabiana Funk, presidente do conselho da associação, expressou a preocupação diante da possível falta da vacina nas clínicas particulares, especialmente em relação às faixas etárias não cobertas pelo setor público.

Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, a decisão da Takeda foi adequada e não compromete os esforços para a imunização da população. Kfouri considera que o alcance da imunização coletiva ainda é muito reduzido com a oferta de vacinas disponíveis no país.

Além da Qdenga, há no Brasil outra vacina contra a dengue, a Dengvaxia, do laboratório francês Sanofi-Pasteur, que só pode ser utilizada por quem já teve dengue. Desde 2009, pesquisadores do Instituto Butantan estudam a produção de uma nova vacina contra a dengue, que se encontra atualmente em fase final de ensaios clínicos.

O Ministério da Saúde determinou que a Qdenga será aplicada em 521 municípios com maiores incidências de dengue e o calendário de aplicação deve ser definido ainda em fevereiro. Entretanto, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, tem defendido que a vacina não será uma solução imediata para a doença e pede a participação da população para acabar com criadouros do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue.

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