A decisão do Governo do Estado de São Paulo de substituir o trabalho autoral de 90 professores-curriculistas pelo Chat GPT na concepção de materiais didáticos para os 3,5 milhões de estudantes das escolas da rede estadual gerou revolta na sociedade paulista. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) explicou que a inteligência artificial será usada apenas em uma parte da elaboração dos materiais, que posteriormente passarão por revisão e ajustes dos especialistas.
Essa medida não é a primeira polêmica da gestão Tarcísio envolvendo a produção de materiais didáticos. No ano passado, slides de algumas disciplinas apresentaram erros de informação, como a atribuição errônea da assinatura da Lei Áurea a dom Pedro 2° e a proibição de biquínis por Jânio Quadros. Diante disso, a utilização da inteligência artificial na criação desses materiais pode levantar questionamentos sobre a qualidade das informações e a efetividade das propostas pedagógicas.
A ausência de subjetividade na etapa inicial de proposição dos conteúdos pode resultar em processos educativos superficiais e desprovidos de formação cidadã, tornando a sala de aula apenas um espaço de ocupação dos estudantes. Embora as ferramentas de inteligência artificial generativa já sejam utilizadas informalmente por alguns professores, institucionalizar sua aplicação na criação de materiais pedagógicos pode impactar negativamente no processo de ensino e aprendizagem.
A crítica apontada para a utilização da inteligência artificial nesse contexto destaca a importância de comandos precisos e intencionais, a fim de obter resultados enriquecedores. A educação midiática tem ressaltado a necessidade de explorar plataformas como o ChatGPT de forma crítica, possibilitando um diálogo autoral extenso e refinado entre a ação humana e a máquina.
Portanto, a revisão e ajuste fino dos materiais didáticos são etapas essenciais que não podem ser alienadas do processo de criação. A presença da criticidade humana é fundamental para questionar a máquina, solicitando reconfigurações e garantindo a qualidade pedagógica dos conteúdos gerados. A inteligência artificial, quando utilizada de forma colaborativa e reflexiva, pode ser uma aliada no processo educativo, desde que haja um acompanhamento cuidadoso e crítico por parte dos docentes.