Os efeitos desse cenário adverso têm sido drásticos, levando a uma perturbação hidrológica significativa. A elevação das temperaturas tem ocasionado o rápido aquecimento do solo, fazendo com que parte da água da chuva evapore antes de infiltrar-se no terreno. Essa anomalia tem gerado mudanças no padrão de chuvas na região, concentrando-as em eventos isolados e reduzindo a recarga nos aquíferos, o que pode afetar diretamente o nível dos rios tributários do rio São Francisco.
O estudo foi realizado com apoio da Fapesp e da National Science Foundation dos Estados Unidos, e para chegar a essas conclusões, os pesquisadores revisaram dados de temperatura, vazão e precipitação regional da Estação Meteorológica de Januária, em Minas Gerais, e os compararam com variações na composição química de estalagmites de uma caverna no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no mesmo município.
O professor Francisco William da Cruz Junior, do Instituto de Geociências da USP e um dos autores do estudo, ressaltou a importância dos resultados obtidos. De acordo com ele, a seca sem precedentes vivenciada atualmente no cerrado está diretamente ligada à perturbação no ciclo hidrológico provocada pelo aumento da temperatura induzida pela atividade humana na emissão de gases do efeito estufa.
Além disso, a pesquisa inovadora também analisou a química das estalagmites da Caverna da Onça, localizada no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, evidenciando como a seca está afetando a formação das rochas dentro das cavernas. A conexão da Caverna da Onça com o clima externo permitiu aos pesquisadores observar as mudanças químicas causadas pela seca, relacionando-as diretamente ao aquecimento global.
Essa abordagem inédita abre caminho para novos estudos em diferentes regiões e biomas, possibilitando uma reconstrução precisa do clima brasileiro ao longo dos séculos. A inovação desse trabalho está na utilização de dados químicos de espeleotemas para identificar as variações nos ciclos hidrológicos, associando-os às mudanças provocadas pelo aumento da temperatura nos trópicos.
Em suma, a pesquisa revela um cenário preocupante e alerta que ainda não atingimos o pico de aquecimento na região, indicando que a situação pode se agravar ainda mais no futuro. Ações urgentes e efetivas são necessárias para lidar com as consequências devastadoras da seca sem precedentes no cerrado brasileiro.