Seca histórica na Amazônia: Rio desaparece em Tefé e comunidades sofrem com escassez de água.

A fumaça que invade as casas em Manaus e impregna tudo com o cheiro de queimado é apenas um dos indicadores da seca severa que assola a região amazônica. A falta de visibilidade e o desconhecimento das diferenças entre nuvens e fumaça dos incêndios fazem com que a situação se assemelhe a uma decolagem de avião às cegas. Essa seca extrema já causou inúmeros problemas, como o encolhimento agressivo de um lago em Tefé, a morte de animais como botos e tucuxis e a elevação da temperatura das águas, formando grandes bancos de areia, o que dificulta a navegação.

No município de Tefé, a situação é ainda mais grave. O igarapé Paranã, que costumava ser um curso d’água caudaloso e servia como rota de navegação e habitat de botos, está completamente seco. Na desembocadura do rio Tefé, o igarapé transformou-se em um banco de areia superaquecido. Agora, as comunidades que dependiam da abundância de água se veem em uma situação desesperadora. Algumas casas ainda têm um pequeno fio de água, usado para matar a sede dos animais, mas não é suficiente para consumo humano. Além disso, as casas flutuantes já não flutuam e os motores não conseguem bombear água sem a presença do rio, o que deixa as famílias sem água para consumo.

Como alternativa, os moradores tentam captar água da chuva, que tem sido escassa nessa seca histórica da região do médio rio Solimões. No entanto, a dependência da água fornecida pelas torneiras públicas é comum a todas as comunidades que perderam o rio. Em Tefé, mesmo estando a menos de 30 minutos da cidade de Tefé de barco, as dificuldades são enormes. Os moradores precisam carregar galões e garrafas de água da cidade até suas casas, caminhando por um terreno enlameado e atravessando a areia quente que já foi o leito do rio. Para as casas mais distantes, a busca por água na cidade se tornou mais frequente.

A situação está se agravando a cada dia. O rio Tefé continua baixando, aproximando-se de um nível crítico. A pesca, que era uma atividade importante para as famílias, não é mais possível, pois não há água suficiente nos rios. As plantações também não sobrevivem ao calor e à seca. Os agricultores estão enfrentando dificuldades para produzir alimentos e dependem cada vez mais da criação de galinhas. A esperança é que o rio volte a encher no início de novembro, mas até lá, a situação continuará precária.

A seca na Amazônia é um fenômeno cíclico, que ocorre todos os anos. No entanto, os moradores das comunidades ribeirinhas estão estranhando a prolongada estiagem deste ano. Os rios estão atingindo níveis históricos de baixa, o que afetará a próxima estiagem, prevista para 2024, de acordo com pesquisadores. A escassez de chuvas durante e após a estiagem está levando a um aumento das secas severas na região. A água da chuva tem sido uma esperança para os agricultores, mas mesmo assim as condições continuam difíceis.

O desaparecimento do rio Tefé é um exemplo alarmante da situação enfrentada pelas comunidades ribeirinhas da Amazônia. As lembranças das secas severas estão se acumulando na memória daqueles que vivem a morte de um rio. A cada dia, esses intervalos entre as secas se tornam mais curtos. Enquanto aguardam o renascimento do rio, os moradores enfrentam grandes dificuldades para obter água potável e produzir alimentos. A seca prolongada está causando um impacto devastador em toda a região amazônica e requer ações urgentes para lidar com essa crise.

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