Os indígenas de Porto Praia, como os Kokamas, Tikunas e Mayorunas, testemunharam uma transformação impressionante no trecho do rio que banha a sua terra indígena. O que antes era um rio caudaloso, que ditava o ritmo da comunidade, agora se transformou em enormes bancos de areia, que se estendem até onde a vista alcança. Essa mudança é considerada a pior já vista pelos indígenas, superando os efeitos da seca de 2010.
A situação atual é desoladora. Os bancos de areia aumentaram consideravelmente, os barcos precisam ancorar cada vez mais longe e a estiagem se prolonga, sem previsão de fim. Os indígenas estão extremamente preocupados com a situação e precisam tirar os barcos da área para evitar que fiquem atolados. O rio continua a diminuir de tamanho a cada dia.
A seca afetou não apenas o transporte e a pesca, mas também a produção e venda dos produtos das mais de 100 famílias do território. A falta de água dificulta a sobrevivência dessas comunidades, que dependem principalmente da produção de farinha e banana. A escassez de água também está causando problemas de saúde, como diarreia e vômitos, especialmente entre as crianças.
Outra comunidade afetada pela seca é a aldeia Nova Esperança do Arauiri, da Terra Indígena Boará/Boarazinho. O igarapé Paranã do Arauiri, que costumava ser um curso d’água que conectava a aldeia ao rio Solimões, agora está praticamente seco e sem vida. As casas flutuantes que antes navegavam pelo rio agora estão encalhadas em frente à cidade de Tefé.
A falta de água potável é um problema urgente nessas comunidades. A qualidade da água disponível é ruim e os indígenas não receberam capacitação adequada para tratar e filtrar a água. Aumentaram os casos de doenças relacionadas ao consumo dessa água, como diarreia e infecção intestinal.
No momento, não há previsão de melhoria na situação. A seca deve continuar até novembro, quando espera-se que o rio volte a ser navegável. Enquanto isso, as comunidades indígenas lutam para encontrar soluções para a escassez de água e para garantir sua sobrevivência diante dessa crise ambiental.
Apesar dos apelos das comunidades indígenas, até o momento, o governo do Amazonas, a prefeitura de Tefé e a Funai não responderam às solicitações de ajuda. Enquanto isso, essas comunidades estão cada vez mais isoladas, lutando para superar os desafios impostos pela seca severa e buscando alternativas para sobreviverem nesse ambiente desértico e hostil.