Relatório da CNV aponta massacre de indígenas durante a ditadura militar e especialistas clamam por investigações sobre genocídio

O segundo volume do relatório da CNV (Comissão Nacional da Verdade) apresentou, em dezembro de 2014, conclusões chocantes sobre o genocídio de indígenas durante a ditadura militar no Brasil. O levantamento apontou que pelo menos 8.300 indígenas foram mortos durante esse período sombrio da história do país. Entre os mais atingidos estão os cintas-largas, com um total de 3.500 mortes, sendo um dos casos mais brutais de violência registrados.

Um dos episódios mais terríveis ocorreu no chamado massacre do Paralelo 11, nas regiões de Rondônia e Mato Grosso, onde os cintas-largas habitavam. Relatos de testemunhas e documentos apontam para o uso de dinamite, aviões e metralhadoras para atacar as populações indígenas. A investigação dos crimes foi prejudicada pela participação do extinto SPI (Serviço de Proteção aos Índios) em negócios ilegais relacionados à exploração de terras indígenas.

No entanto, o massacre do Paralelo 11 não foi um caso isolado. Documentos apontam para uma série de ataques que ocorreram durante a ditadura militar, levando à morte de milhares de indígenas. O relatório chama atenção para a dificuldade em calcular o número exato de vítimas, bem como a falta de responsabilização ou caracterização dos crimes como genocídio.

Os relatos sobre esses massacres revelam um quadro de profunda crueldade, incluindo o uso de armas de fogo, distribuição de alimentos envenenados, contágio proposital de doenças, como varíola, tuberculose e gripe, e crimes sexuais. No entanto, especialistas apontam que esses crimes não foram oficialmente classificados como genocídio devido à ausência de definição legal na época.

Os esforços de investigação e reparação histórica em relação a esses massacres ainda são limitados. Há relatos de impunidade associada a casos individuais e empresas envolvidas nos massacres permanecem sem responsabilização. A falta de um esforço coordenado para esclarecer esses eventos representa uma lacuna significativa na história do país.

A história dos cintas-largas e de outros povos indígenas que sofreram ataques durante a ditadura militar ainda precisa ser contada de forma mais precisa e ampla. A criação de uma comissão para apurar as violações cometidas contra os povos indígenas durante esse período foi recomendada pela CNV e continua sendo uma demanda urgente da sociedade civil e lideranças indígenas.

Em 2019, o Ministério Público Federal em Rondônia propôs uma ação de reparação histórica ao povo cinta-larga pelo massacre, buscando responsabilizar a União, a Funai e a empresa Arruda, Junqueira e Cia. Ltda. No entanto, a difícil localização da empresa demonstra os desafios enfrentados para responsabilizar os envolvidos nos crimes contra os indígenas.

A história desses massacres permanece como uma página sombria da história do Brasil, exigindo esforços contínuos para esclarecer, reparar e responsabilizar os criminosos envolvidos. A memória dessas atrocidades é parte fundamental da construção de uma sociedade justa e democrática.

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