No entanto, moradores locais estão preocupados com os possíveis impactos dessa mudança. Eles alegam que a conversão de áreas rurais em urbanas ameaçaria nascentes e rios importantes para a região, além de afetar a paisagem e a produção agrícola, que são atrativos turísticos locais. A proposta de revisão do Plano Diretor de São Roque, apresentada pela gestão do prefeito Guto Issa, prevê a conversão de 49 km² de zonas rurais em diferentes tipos de zonas urbanas, diminuindo o tamanho mínimo dos lotes.
O Plano Diretor é a lei que orienta o desenvolvimento de uma cidade e deve ser atualizado a cada dez anos. No caso de São Roque, o plano vigente é de 2006. Além da transformação de áreas rurais em urbanas, a proposta também prevê a redução do tamanho dos lotes de outras áreas, como chácaras instaladas sobre áreas de manancial.
A arquiteta Adriana Cruz, presidente do Conselho da Cidade de São Roque, afirma que a proposta de revisão do Plano Diretor mudaria quase toda a cidade. Essa discussão sobre maior adensamento construtivo acontece em um momento em que o mercado imobiliário do interior paulista está aquecido. Segundo pesquisa da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), a região de Sorocaba, que inclui São Roque, teve uma valorização anual de 13% no preço médio do metro quadrado.
A preocupação com os impactos ambientais também é destacada pelos moradores. São Roque faz parte da Reserva da Biosfera Cinturão Verde de São Paulo, área de florestas essencial para a qualidade de vida dos habitantes da metrópole paulista. Além disso, parte da urbanização prevista está localizada sobre a Área de Proteção Ambiental de Itupararanga, onde está a principal represa da região de Sorocaba.
O geógrafo João Paulo Jeannine destaca o risco de a expansão imobiliária aumentar a necessidade de captação de água do sistema São Lourenço, que atende uma parte da Grande São Paulo. Pequenas propriedades rurais já sofrem com a falta de água, o que afeta cultivos como o da alcachofra e prejudica a economia local.
Recentemente, a prefeitura retirou o projeto do Plano Diretor da Câmara para reavaliação de alguns pontos antes da votação, após pressão judicial motivada por ação popular. A prefeitura afirma que sua proposta respeita a legislação ambiental vigente e não compromete os recursos hídricos do município. Segundo o comunicado oficial, a prefeitura está apenas oficializando a realidade do município, que já conta com uma lei de 2020 que permite lotes menores. As áreas efetivamente rurais serão mantidas, de acordo com o comunicado.