Prefeitura de São José dos Campos recolhe livro infantojuvenil com cientistas mulheres após críticas de vereador.

Prefeitura de São José dos Campos recolhe livros com cientistas mulheres de salas de leitura

A gestão municipal de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, tomou a decisão de recolher um box com dois livros infantojuvenis que retratam a história de cientistas mulheres nas salas de leitura das escolas municipais. A ação foi motivada após uma queixa de um vereador, Thomaz Henrique, do Partido Liberal (PL), que criticou a inclusão da antropóloga Débora Diniz em um dos livros devido ao seu histórico de pesquisa sobre a questão do aborto.

Os livros em questão, escritos por Flávia Martins de Carvalho e publicados pela editora Mostarda, trazem ilustrações e versos que contam de forma resumida a trajetória de mulheres de destaque em diversas áreas das ciências. As obras são voltadas para crianças e jovens, sendo um dedicado às linguagens e ciências humanas e o outro à matemática e ciências da natureza.

Dentre as cientistas retratadas nos livros estão Lélia Gonzalez, Ruth Bader Ginsburg, Jaqueline Góes de Jesus, Stephanie Louise Kwolek, Nise da Silveira, Débora Diniz e Marielle Franco, a ativista e vereadora assassinada no Rio de Janeiro em 2018.

A reclamação do vereador Thomaz Henrique se deu em uma sessão da Câmara Municipal, na qual ele associou a presença de Débora Diniz no livro a uma suposta doutrinação ideológica nas escolas públicas. Henrique questionou a presença de uma figura que defende a legalização do aborto como referência para meninas da 5ª série.

No entanto, vale ressaltar que os livros em nenhum momento abordam o tema do aborto, mas sim fazem menção aos “direitos reprodutivos” das mulheres. Especialistas destacam que os direitos reprodutivos vão além da questão do aborto e incluem o direito de decidir livre e responsavelmente sobre o número, intervalo e timing de filhos, bem como ter acesso a recursos para a saúde sexual e reprodutiva.

Após o recolhimento dos livros, a editora Mostarda manifestou surpresa e repudiou qualquer forma de censura, destacando a importância de obras que promovem o pensamento crítico e o exercício da cidadania nas escolas. A Secretaria de Educação de São José dos Campos confirmou o recolhimento dos livros, mas se recusou a responder aos questionamentos da imprensa sobre os motivos e o processo de reavaliação. A prefeitura também não se pronunciou sobre o assunto.

A polêmica em torno da retirada dos livros levanta questões sobre a liberdade de expressão, a diversidade de pensamento e a importância da educação no debate de temas sensíveis. A decisão da prefeitura de recolher os livros ainda gera controvérsias e coloca em evidência a necessidade de diálogo e reflexão sobre os conteúdos pedagógicos disponibilizados nas escolas.

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